Revista Rua


O Parque do Ibirapuera e o lazer na cidade de São Paulo: da descrição à apropriação
Ibirapuera Park and leisure in the city of São Paulo: a local description and appropriation

Paulo Cezar Nunes Junior

Além do industrialismo, é preciso lembrar que a modernidade também é marcada pelo capitalismo e pela racionalidade. Por um lado, ambos os pólos (o lazer e o trabalho, o tempo livre e o tempo produtivo, o divertimento e a linha de montagem) estariam ligados pela lógica fabril ao modo de produção capitalista. Por outro, a racionalidade incutia, no despertar das ciências setecentistas, medidas de sistematização de métodos, ações de planejamento não só para as cidades, mas para a educação, para os hábitos de trabalho e de lazer.
De modo muito direto, estas diretrizes e maneiras de controle da sociedade determinaram também a organização dos espaços de lazer nas grandes cidades, primeiramente com a presença de praças, jardins públicos e áreas verdes similares, e depois, com outros espaços específicos para os diferentes esportes e demais práticas institucionalizadas como de tempo livre[3].
Tomarei o desenvolvimento dos parques urbanos na cidade de São Paulo para ilustrar tais processos, uma vez que podemos encontrar nesta trajetória elementos interessantes para a discussão sobre os papéis desempenhados pelos espaços dos parques urbanos na organização da cidade e das práticas de lazer dos sujeitos no seu tempo livre.
 
São Paulo e os parques urbanos
É a partir do final do século XIX (KLIASS, 1993) que são criados os principais parques da cidade de São Paulo: Parque Villon, Parque Tenente Siqueira Campos (Parque Trianon), Parque Aclimação, Parque D. Pedro II e Parque da Água Branca. Estes espaços traduzem algumas das tensões sociais da época: trabalho e lazer, patrão e operário, urbano e rural. Pares que trazem arraigados em si as contradições e as formas com que o capital se expandiu por todo o século XX.
Essas características começam a aparecer no modo como as cidades são planejadas. O avanço do capitalismo e seus reflexos na configuração do espaço são acompanhados também pela incursão do lazer neste processo. Por isso defendo aqui a indissociabilidade presente entre lazer e espaço, cujo ponto de convergência e dissipação de significados ocorre no sujeito, agente primeiro desta relação.
A cidade de São Paulo tem hoje quarenta e dois parques públicos totalmente implantados (100 PARQUES, 2008). Em sua maioria, estes locais foram criados a partir da primeira metade do século XX, período no qual as fronteiras com o espaço


[3] Poderíamos ainda nos ater aqui à consagração de certas práticas em outros espaços de lazer, como cinemas, shoppings centers, centros culturais, etc. Porém, como a discussão feita neste texto gira em torno dos parques urbanos, preferimos dar evidências a espaços com características próximas.