Revista Rua


O Parque do Ibirapuera e o lazer na cidade de São Paulo: da descrição à apropriação
Ibirapuera Park and leisure in the city of São Paulo: a local description and appropriation

Paulo Cezar Nunes Junior

2008, foi possível notar vários casos de apropriação que ilustram de modo interessante as idéias desenvolvidas até aqui sobre o assunto (NUNES JUNIOR, AMARAL; 2009).
Neste período, foram realizadas ao todo trinta e oito visitas ao local. Com freqüência em diferentes dias e horários, as visitas ocorreram sistematicamente até o mês de julho, com outras eventuais idas a campo nos meses de agosto e setembro. Aos poucos, as diferentes apropriações foram sendo registradas, gerando novos usos e enriquecendo as descrições até então construídas sobre o Parque do Ibirapuera. Nesta última parte do texto, apresentarei algumas delas.
 
Apropriações no Parque do Ibirapuera
No domingo, dia 4 de maio, observei que cerca de trinta pessoas jogam voleibol e futebol em um gramado em frente às quadras poliesportivas. Pelas mochilas e pela mesa cheia de comida montada no chão, o grupo se organizou para passar o dia no parque. Representam o pedaço (MAGNANI, 1998)[10] de algum bairro da cidade que nesse dia se organizou para ir até lá se divertir e que fazem do gramado um espaço extremamente significativo para suas práticas de lazer. Ali, são projetadas sociabilidades e características próprias deste grupo, códigos de ação e de relação característicos de seu bairro e que, ao menos temporariamente, tomam o Parque do Ibirapuera como espaço de ação por meio a apropriação.
Na Praça da Paz observei famílias, adultos e crianças brincando no imenso gramado verde que caracteriza o local. Um pai ensina seu filho a empinar uma pipa, e outro joga bola com suas duas filhas. Em ambos os casos, é evidente a noção de tempo dilatado que conduz as atividades.
Ambientes como a Praça de Paz e usos como estes anunciados acima têm papel importante uma vez que exercem a contrafunção de fuga e de espaço para a liberdade (MUNNÉ, 1980) aos seus usuários em pleno ambiente urbano. Este motivo corrobora para o papel de oásis atribuído ao Parque do Ibirapuera. Obviamente, cada um desses usos está imbuído de autocondicionamentos (por exemplo, a vontade pela brincadeira) e heterocondicionamento (por exemplo, o sol forte ou o desânimo da outra pessoa que brinca). Porém, de modo geral é possível dizer que se vivem dentro do Parque do Ibirapuera desejos que não são vividos lá fora: passeios de bicicleta, encontros à sombra das árvores, o olhar para o outro que não está trabalhando, o espaço sem a dominação dos carros, gramados, contato com animais, etc. A sensação das horas dilatadas é


[10]A categoria "pedaço" indica, entre outros, os códigos de reconhecimento e os laços de sociabilidade e reciprocidade existentes desde o núcleo familiar até um círculo mais amplo que envolve amigos, colegas e outros "chegados". O fator determinante são as relações que se estabelecem entre estes membros.