Revista Rua


O Parque do Ibirapuera e o lazer na cidade de São Paulo: da descrição à apropriação
Ibirapuera Park and leisure in the city of São Paulo: a local description and appropriation

Paulo Cezar Nunes Junior

usuário com o parque na produção do espaço (LEFEBVRE, 1986). Neste caso, no Parque do Ibirapuera na cidade de São Paulo.
Apesar das imposições e das formas de sanções impostas pelo sistema (os horários mais apropriados, as formas de acesso, os dias livres de trabalho, os grupos sociais e os espaços delimitados), ambos, usos e apropriação do espaço, denotam um sentido de vínculo e de pertencimento ao lugar.
Os usos demarcam uma relação com a cidade calcada não no valor de troca, mas em um contato mais próximo entre sujeito e espaço, dotado de urbanidade, atendendo às técnicas requeridas pela ligação existente entre necessidade e estratégia, pela qual se estabelecem na realidade prático-sensível (LEFEBVRE, 2006) do espaço urbano. 
Pela observação destes usos é possível obter diferentes leituras da realidade, tipos inusitados de relações com o espaço, dos quais podem emergir possibilidades de vislumbrar novas maneiras de resolução de problemas, de construção de outros modelos de funcionamento da sociedade. Isto pode ser percebido nas ruas, nas calçadas, nos parques, no modo como o sujeito semovimenta nas cidades e como ele age durante suas práticas de lazer.
São estas várias propensões de usos que podem garantir a versatilidade dos espaços e a flexibilidade de seus fluxos. No caso do Parque do Ibirapuera, essas condições foram evidentes na observação do espaço da marquise e da pista central (NUNES JUNIOR, 2009). Em ambos, era notória a mudança de usos dependendo do dia da semana observado. Aos finais de semana e feriados os fluxos mais intensos e a freqüência de grupos mais “subversivos” forneciam a estes espaços usos muito distintos daqueles observados durante o dia de semana, quando o parque era freqüentado majoritariamente por moradores dos bairros próximos, invariavelmente de classe média e alta.
O conceito de apropriação caminha de modo semelhante ao sentido do uso. Pol (1996, p.8), escreve que “la apropiación del espacio – con toda su complejidad – aparece como uno de los núcleos centrales en la interacción entre el ser humano y su entrono físico”. Apesar de ser oriundo da psicologia ambiental, este conceito está diretamente ligado ao aspecto psicossocial, compreendendo os processos cognitivos e afetivos em uma ação que é, ao mesmo tempo, transformadora. A partir disso, o uso e a ação são elementos básicos da apropriação, e pode-se considerar que por esta via é possível criar espaços e tempos de transformação (CODINA, 2007).