Revista Rua


O Parque do Ibirapuera e o lazer na cidade de São Paulo: da descrição à apropriação
Ibirapuera Park and leisure in the city of São Paulo: a local description and appropriation

Paulo Cezar Nunes Junior

Outro ponto importante a ser discutido é a existência de tensões no uso e na apropriação do espaço, uma vez que de um lado há normas vigentes que procuram garantir certo tipo de prática permitida e, de outro, existe a participação dos sujeitos que podem impingir possibilidades de transformação, contidas nos usos e apropriações que estes fazem do espaço. As diferentes funções dadas ao Parque do Ibirapuera influenciaram a participação do público usuário. Pela imagem e pela circulação de sentidos atribuídos a cada espaço, certos significados foram diretamente decisivos na escolha dos usos por parte dos sujeitos. O anúncio de feiras de saúde ou de determinado show ou exposição aos finais de semana trazia ao Parque do Ibirapuera certo público, a partir dos interesses dos mesmos e do significado lançado ao espaço naquela ocasião.
Assim, é possível afirmar que afiliar a determinado espaço sinônimos como saúde, prestação de serviços públicos, programa cultural ou exposição, por exemplo, é um mecanismo que interfere nas escolhas e nos usos que serão feitos dos mesmos, embora sempre haja a possibilidade de outras formas de apropriação de um mesmo espaço.
 Como visto anteriormente, tanto os parques urbanos como as demais formas de materialização do lazer na cidade formam, principalmente na primeira metade e meados do século XX, uma espécie de “contrato” estabelecido entre o sistema e o sujeito. Mecanismos lícitos para ações que, dentro do escopo que constituiu a modernidade, precisavam estar devidamente concatenados entre si. Porém, por constar-se de uma relação dialética, além dos possíveis determinismos, há implícito neste “contrato” a possibilidade de transformação da realidade, e neste sentido os parques podem ser espaços potencialmente mais propícios para a atuação rumo ao tempo livre, de liberdade para a liberdade (MUNNÉ, 1980). Este é um dos conceitos cunhados por Munné (1980) para definir o tempo livre, o qual seria construído pela tensão entre as ações heterocondicionadas (as necessidades e as obrigações) e as autocondicionadas (escolhas de vontade própria), e que caminharia na direção da segunda. Na combinação entre estes pólos o sujeito é capaz de ressignificar suas ações, de imprimir novos usos ao espaço por meio da apropriação.
O espaço para o tempo livre (NUNES JUNIOR, 2009) ocorreria nesta direção; na medida em que as ações dos sujeitos caminhem no sentido da liberdade, prezando pela autonomia e pela vontade própria de cada um, em conflito com os agentes condicionantes do meio: o desenho arquitetônico, os conflitos sociais, as identidades, as limitações físicas, as imposições culturais, etc. No contato com o Parque do Ibirapuera durante uma pesquisa de campo realizada entre os meses de fevereiro e setembro de