Revista Rua


Ordem e organização: algumas questões sobre razão e silenciamento na cidade
Order and organization: some issues about reason and muting in the city

Fábio Ramos Barbosa Filho

E aí podemos pensar nos modos pelos quais o discurso jurídico administrativo, assentado na fala técnico-teórica do saber urbanístico, inscreve o trabalho político na esteira do trabalho técnico, silenciando o político.
 
Conclusões...
 
Ainda estamos no nível das especulações. Pensando na construção do dispositivo de análise que dê conta de compreender as tensões entre as falas sobre o espaço periférico no que estamos chamando de saber urbano especializado e saber urbano ordinário.  Pensamos, e isso pode ser chamado de hipótese assentada no nosso trabalho de recorte↔montagem, que o espaço periférico aparece camuflado tanto nos documentos oficiais quanto no discurso científico por ser justamente aquilo que escapa à racionalização da cidade onde a fala jurídico-administrativa pressupõe o saber científico, mas estabelece com ele um regime de negociação de sentidos. Tanto a fala da ciência quanto a fala jurídico-administrativa se justificam pela necessidade de gestão da vida social, devido à complexificação das relações humanas no espaço urbano, apagando-se o político.  
A racionalização do espaço e o silenciamento do espaço periférico são dois sintomas de um mesmo processo: as políticas da quantidade e do movimento se inscrevem no imaginário do planejamento urbano como processo técnico e indistinguem, no movimento da constituição do saber urbano especializado, a relação entre conhecimento e objeto. A técnica, envolvida com as políticas públicas na tensão com o mercado, corrobora com a idéia do espaço público como espaço de ninguém, como espaço hostil, o que no plano político acaba supervalorizando a instância privada, favorecendo a especulação imobiliária e cerceando as possibilidades da escrita urbana sob um regime determinado pelos interesses financeiros, no jogo que inscreve as práticas no domínio do político.
Aí podemos pensar, na esteira de Orlandi (2004), que as políticas de divisão do espaço urbano que empreendem a exaltação do privado e silenciam o que escapa à racionalização do planejamento urbano, esvaziam os sentidos do público, a tal ponto que os espaços comuns podem ser considerados como um não-lugar. E aí dizemos que essas políticas de gestão que se erigem a partir do silenciamento das contradições do espaço urbano, do que escapa à racionalidade (que no fim das contas é o apagamento do