Revista Rua


Ordem e organização: algumas questões sobre razão e silenciamento na cidade
Order and organization: some issues about reason and muting in the city

Fábio Ramos Barbosa Filho

os temas em torno dos quais se organiza a cidade corbuseriana – classificação das funções urbanas, multiplicação dos espaços verdes, criação de protótipos funcionais, racionalização do habitat coletivo – pertencem ao acervo comum dos arquitetos progressistas da mesma geração (CHOAY, 2010, p. 183)
 
Le Corbusier vai pautar o seu pensamento teórico em três premissas sobre o espaço urbano: desordem, insegurança e falta de humanidade (cf. CHOAY, 2010). Essas três premissas estão diretamente relacionadas à questão da industrialização que, de acordo com Corbusier, insere o espaço urbano em um regime que lhe retira a coerência, como atesta o trecho abaixo:
 
Nossas cidades crescem sem forma, indefinidamente. A cidade, organismo urbano coerente, desaparece; a aldeia, organismo rural coerente, traz os estigmas de uma decadência acelerada: colocada em inopinado contato com a grande cidade, é desequilibrada e desertada (CORBUSIER, 2004, p. 10)
 
Podemos ver em Le Corbusier um descontentamento em relação ao presente, impulsionado, sobretudo, pela industrialização, que ocasiona a desorganização por meio do crescimento acelerado (e desordenado) da cidade. O recorte acima também nos ajuda a compreender o(s) sentido(s) da tríade desordem, insegurança e falta de humanidade.
            Em relação ao recorte da obra corbuseriana pensamos em três paráfrases:
 
(P1) Uma cidade é um organismo urbano;
(P2) Uma cidade possui coerência;
(P3) Uma cidade deve possuir definição quanto à forma;
 
Esses enunciados compõem o desenho teórico das políticas da quantidade e do movimento. E aí se faz necessário pensar na relação que se estabelece entre o pensamento urbanístico (fala da ciência) e a prática política (fala jurídico-administrativa). Não queremos pensar na ordem (quem determina quem), mas pensar num jogo de sobreposições que vai sendo determinado pelas injunções sociais e pela historicidade das formações sociais onde o traçado urbano se projeta. Os três enunciados que compõem nossa deriva parafrástica articulam entre si a relação constante entre cidade, ordem e norma. Tanto quando faz referência ao vocabulário médico-biológico (orgânico), como fazendo referência à noção de coerência. O organismo, enquanto conjunção de sistemas (órgãos), possui uma vitalidade e uma