Revista Rua


Ordem e organização: algumas questões sobre razão e silenciamento na cidade
Order and organization: some issues about reason and muting in the city

Fábio Ramos Barbosa Filho

premissa de que “a interpretação é um gesto, ou seja, um ato no nível simbólico” (ORLANDI, 2007b, p. 18) e que
 
não há sentido sem interpretação. Mais interessante ainda é pensar os diferentes gestos de interpretação, uma vez que as diferentes linguagens, ou as diferentes formas de linguagem, com suas diferentes materialidades, significam de modos distintos (ORLANDI, 2007b, p. 9)
 
Essa tomada de posição frente à constituição, formulação e circulação dos sentidos (cf. ORLANDI, 2005) sobre o espaço, e que constituem o que chamamos de saber urbano, nos permite pensar na tensão (contradição) e na extensão (assimilação) como processos de significação que inscrevem os sentidos nos movimentos da história e se filiam a um interdiscurso. No movimento de sua instituição os saberes específicos forjam um imaginário de fechamento e completude, se estabelecendo como campos disciplinares independentes. Cabe a nós analisar os movimentos dessa ilusão de independência a partir da noção de que “o dizer é aberto. É só por ilusão que se pensa poder dar a palavra final. O dizer também não tem um começo verificável: o sentido está (sempre) em curso” (ORLANDI, 2007b, p. 11).
Tomando como material de análise fragmentos de uma obra urbanística que se tornará referência para o pensamento urbanístico brasileiro e também fragmentos do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) e da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), buscamos pensar nos discursos sobre a cidade (discurso do urbano) a partir da tensão entre a ordem e a organização (cf. ORLANDI, 2007b) no jogo do silenciamento (cf. ORLANDI, 2007a). Orlandi (2007b) vai afirmar que a linguagem não tem como suturar o possível, o contingente, por trabalhar (com) o silêncio, por ser estrutura e acontecimento. Deslocamos essa reflexão para o âmbito do espaço urbano para tentar compreender de que modo(s) o discurso do urbano falha ao tentar conter, suturar, a contingência da cidade, as movências do real.
Partindo do princípio de que “para a análise de discurso, a constituição do corpus e a própria análise estão intimamente ligados, ou seja, são a mesma coisa” (ORLANDI et al., 1989, p. 31), buscamos a constituição do nosso material de análise a partir de um movimento incessante entre recorte e montagem.