Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

Indivíduo e sociedade: um pensamento eugênico
 
À primeira vista, o rápido declínio das teorias raciais nos anos dez do século passado permitiu uma retomada de um nacionalismo romântico. Ele poderia ser identificadoprincipalmente pelasmudanças que ocorreram na estrutura política brasileira, como também no cenário belicista da Europa. Porém, cabe ressaltar que esses são sinais exteriores e que determinadas práticas possibilitaram a releitura dos problemas nacionais. Como exemplo, destacamos a ação de Oswaldo Cruz na campanha contra a febre amarela. Partindo de conceitos que, na época, eram muito novos para a transmissibilidade da doença, ele ataca diretamente os agentes de transmissão, os mosquitos. Muito mais do que pioneirismo, Oswaldo Cruz parte das últimas concepções de epidemiologia e microbiologia, que denotam práticas discursivas que emergem na década de dez do século XX.
Até então, era corrente a ideia de que “a questão da doença ou de sua reprodução encontrava sempre como chave explicativa o ‘meio-ambiente’. Nesta perspectiva, o ‘meio-ambiente’ era portador e o reprodutor das doenças. A única forma de eliminá-la era atingindo e transformando este meio” (LUZ, 1982, p. 76). No entanto, passa-se deste tipo de intervenção em larga escala para uma preocupação com oindivíduo.
 
A intervenção do meio nas individualidades
 
Ao se voltar para o meio ambiente, a prática da higiene pública, até a primeira década do século passado, não visava diretamente à alma dos indivíduos, mas sim sinais exteriores, isto é, marcas visíveis de doenças, como eram visíveis os sinais de degenerescência racial. O rosto, o temperamento, a compleição física denotavam aquilo que portava internamente o sujeito. Como também, o meio ambiente visivelmente carregava os seus próprios sinais.  Dessa forma, a intervenção dos agentes de saúde, ou dos educadores, oudos pensadores do período sempre vinha no sentido de eliminar o que era anormal pormeio de uma ação que poderíamos chamar de terapêutico-corretiva, isto é, se oselementos carregam consigo as suas marcas próprias, deve-se agir para corrigir e eliminar as más tendências - ação puramente repressiva nas escolas -, ou melhorar a raça através<de cruzamentos - branqueamento -, ou, ainda, eliminar os focos epidêmicos do meio ambientee dos indivíduos – transformando-os. É assim que