Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

acontece com José B. Lannesque, ao inspecionar o Instituto Disciplinar, para onde eram enviados menores infratores,notava:
 
(...) se é de conveniência inestimavel como vae se reconhecendo, com geral applauso em S. Paulo, para exemplo de todo o paiz, desenvolver e adestrar as forças physicas na educação da mocidade, é imprescindivel a obervancia dessa pratica em um estabelecimento de disciplinas. É, portanto, extranhavel que venham menosprezal-a em fofos leitos e agasalhos exagerados que amolentam, tiram a rigeza muscular e a energia de reacção ao organismo dos rapazes, que se querem sadios e fortes para o trabalho a que preciso é affeiçoal-os (O ESTADO DE SÃO PAULO, 05/10/1903).
 
Corrigir os menores era antes de tudo uma questão de adestramento, já que “o Instituto não se preoccupará de artes de officios; não é escola para galardoar viciosos e vadios” (Idem). O carrancudo inspetor entende que o corpo, o caráter têm suascaracterísticas inatas, o que faz com que a única saída seja partir para terapêuticas corretivas. Esta percepção é correlata à da intervenção no meio, como no caso dastransformações urbanas que ocorreram no Rio e em São Paulo nos primeiros anos do século XX. Porém, na virada do século, há uma mudança drástica nos conceitos debiologia e de medicina, que são os mais evidentes, como também nas concepções raciais
e das subjetividades, embora estas sejam menos visíveis. O modelo intervencionista estatal, no caso da higiene pública, é deixado de lado, já que o combate às doenças não se processava mais em ações de envergadura voltada pura e simplesmente para o meio. Como exemplo, temos o combate à febre amarela. Até 1903, mais ou menos,
 
(...) as práticas sanitárias no período republicano embasavam-se tecnologicamente na bacteriologia, apresentando agentes causais próprios e únicos para cada patologia, com elementos da teoria miasmática, adaptada para a nova era das descobertas bacteriológicas. A intervenção do Estado nos problemas de saúde pública dar-se-ia através da utilização da engenharia sanitária e da polícia sanitária como instrumentos privilegiados para as intervenções sobre a cidade. Essas ações seriam organizadas mediante sua centralização crescente na esfera estadual, com o predomínio de ações campanhistas, com intervenções sobre problemas sanitários específicos, quase sempre epidemias, na primeira década e meia de República (TELAROLLI JÚNIOR, 1996, p. 93).