Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

Considerações Finais
Pode-se afirmar que o declínio do modelo campanhista de intervenção sanitária se deve ao desinteresse da elite republicana em tratar o povo doente e desassistido. Entretanto, podemos considerar que ao tratar dos vetores das doenças, a medicina permite justamente à elite governante um certo relaxamento nos programas de intervenções espaciais e urbanas, já que sendo o indivíduo o alvo, e não mais o meio, é possível considerá-lo como objeto e alvo dessa nova prática discursiva.
O novo indivíduo passa a ser o campo no qual se “inoculam” vacinas, hábitos, moral, etc., independente do tipo físico ou biológico, já que trata-se de criar esse sujeito. Antes, considerado quase que inteiramente perdidos no pensamento racial, os mestiços passam a ser tratados como doentes, sendo considerados regeneráveis. Assim “era preciso educá-los, incitá-los a casamentos desejáveis, evitar maus hábitos e perversões” (SCHWARCZ, 1993, p. 232).
Neste aspecto, a Faculdade de Medicina do Rio, por meio de sua revista Brazil Médico, inicia uma campanha pela prática da educação física no início da década de dez (idem, loc. cit.). Desta forma, é possível passar de um pensamento racial para um pensamento eugênico. É evidente que não se trata de práticas prontamente aceitas e colocadas para funcionar. Trata-se antes do aparecimento de práticas discursivas, de embates em torno dos indivíduos e do poder associado ao domínio de saber sobre estes mesmos indivíduos. Podemos até mesmo dizer que com a emergência de determinadas concepções sobre os sujeitos, assistimos ao nascimento da nação, permitindo o surgimento e a difusão de pensamentos como os de Alberto Torres e de seu discípulo, Oliveira Vianna.
Entretanto, malgrado a ação dos intelectuais, cada vez mais eles perdem importância, assim como os tipos de intervenção que solicitam do governo. Este, por sua vez, absorto nas transações comerciais do café, abandona à própria sorte grande parte da população, pois lhe parece que a vacina solucionará satisfatoriamente o problema das doenças no país. Mas tal desconsideração não altera o quadro de compreensão do indivíduo, ao contrário, ela o confirma.
A inflexão do pensamento racial, antes de ser uma mudança por melhoramento, é a transformação de uma formação discursiva e, consequentemente, das práticas