Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

hesitações, e isso graças a esse acordar de energias civicas que ora percorre todas as camadas do nosso povo [...]. O que falta agora é formularem-se claramente as linhas geraes de um plano a desenvolver [...]. Isto será tanto menos difficil quanto a administração já conta com os principaes apparelhos que deverão intervir: o serviço sanitario, a inspecção medica escolar, o professorado, os quarteis. Seria de toda conveniencia que se procurasse religar a esse apparelhamento, subordinando-as a directrizes certas, distribuindo-lhes um papel determinado na grande entrosagem, as nossas corporações sportivas. Por toda a parte, hoje em dia, os que se acham á testa dos povos volvem as suas vistas para o ‘sport’, consideram-no como um mundo de forças a encaminhar e aproveitar para o maior bem da sociedade e da nação, e nesse sentido tentam dar-lhe um objetivo superior e uma disciplina severa. É tempo de fazermos o mesmo (O ESTADO DE SÃO PAULO,04/08/1917).
 
Esta nova sensibilidade pode ser identificada no caso da doença: ela não está no meio, já que ela utiliza vários vetores, e sim na capacidade das bactérias, vírus, se procriarem em condições adequadas. Isto não quer dizer que o governo na Primeira República passou a atuar massivamente no combate às doenças, muito pelo contrário, assim:
a oferta de assistência individual à saúde fugia completamente aos padrões de organização social da Primeira República, politicamente excludente e autoritária, e ao mesmo tempo liberal no campo econômico [...]. A assistência aos doentes foi um assunto secundário na organização sanitária da Primeira República, situação atenuada na década de 1920 [...]. Quase como regra, a assistência hospitalar e ambulatorial aos doentes se dava por iniciativa da filantropia (TELAROLLI JÚNIOR, 1996, p. 222).
 
As marcas exteriores na enunciação dos indivíduos
 
Mas onde se situam essas modificações nos enunciados acerca do sujeito, do indivíduo? Poderíamos dizer que não há um lugar para elas e muito menos o agente, e ainda mais, os enunciados são subreptícios. As mudanças que ocorrem neles são insidiosas e silenciosas. Um experimento em Havana no tratamento da febre amarela*, ou ainda, uma discussão sobre micróbios, ou, o patriotismo num livro para escolares. A questão é que o indivíduo deixa de portar marcas interiores, para se tornar passível de registro de sinais exteriores. Portanto:


* O exército americano adotou em Havana - Cuba, as novas teorias sobre a transmissibilidade da febre amarela, combatendo os focos de procriação do mosquito. A partir dessas experiências que Oswaldo Cruz se baseou para a campanha de combate ao mosquito transmissor, além da vacinação obrigatória.