Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

Mas,
(...) no início do século XX, com o consenso em torno da transmissão da febre amarela pelo mosquito, verificou-se nova mudança no padrão da ação sanitária estadual, com o procedimento de ações para o controle do vetor, basicamente ações sobre os cursos e coleções de água. Essa tendência de medidas mais específicas, direcionadas exclusivamente ao combate do vetor, após a descoberta e a aceitação da transmissão da febre amarela pelo mosquito, em substituição às ações gerais sobre o meio urbano, não se verificou apenas no Brasil, mas em toda a América Latina nesse período. (Idem, p. 97).
 
O combate ao mosquito transmissor da febre amarela abriu um novo campo para a intervenção de higienistas, como também alterou profundamente suas concepções. Assim:
 
em todos os logares onde tem existido commissões (sanitárias) mais demoradas, Santos, Campinas, Sorocaba, as epidemias não se têm reproduzido, apezar da disseminação naturalmente profusa do agente infectuoso. É que em hygiene mais vale prevenir do que remediar, de mais seguras armas dispõe a higiene preventiva ou de defeza, do que a aggressiva ou de combate ", nesse sentido, “a hygiene publica não tem só por funcção prevenir as epidemias e combatel-as, tambem se incumbe de instruir o povo, e esta sua missão não é a menos benefica”, e completando, “a hygiene precisa ser pregada ao povo com a mesma insistencia com que o malho volta á bigorna. É só no fim de muitas marteladas que o ferro se amolda ás exigencias da industria. Assim tambem é percorrendo uma escala cujo diapasão varia da persuasão á multa que o hygienista consegue os melhoramentos necessarios ás habitações (Dr. Victor Godinho, O ESTADO DE SÃO PAULO, 01/10/1903).
 
Pressente-se, nesse momento, que a inflexão nas práticas discursivas – do indivíduo portador de tendências inatas ao ser cercado por micróbios - se direciona a uma atuação mais vigorosa das instituições governamentais, e muitas vezes, por meio de metáforas belicistas. Essa atuação requisitada é policial, preventiva e punitiva, tanto que:
 
as molestias evitaveis serão reprimidas, custe o que custar, para beneficio da geração presente. É de conveniencia termos este facto sempre em mente, pois elle constitue o principio fundamental que dirige os destinos da Nova Higiene [...] O Estado pode fazer qualquer lei ou regulamento ou impor qualquer restricção ás actividades de um individuo uma vez que isso seja necessario para a conservação da saude da coletividade (Prof. Darling, O ESTADO DE SÃO PAULO, 13/04/1919).