Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

Alguns anos separam os discursos dos diretores da Escola Normal (futura Escola “Caetano de Campos”), entretanto há grandes diferenças. A educação preconizada por Caetano de Campos, como vimos, visava corrigir o que era dado, isto é, tentava simplesmente trabalhar com o que estava pronto: as propensões e atavismos, dependendo da educação uma melhoria racial. Já para o diretor Oscar Thompson, tratava-se de instilar hábitos, criar indivíduos aptos e prontos para enfrentar a concorrência entre as nações. Já não era preciso o imigrante branco europeu para que a raça melhorasse, era necessário produzir os indivíduos necessários à nação. Se o branqueamento representava a possibilidade de sair do atraso, agora o indivíduo poder ser produzido nos bancos escolares, nos quartéis, nas fábricas, ou seja, onde se pudesse instilar hábitos, comportamentos. Já não se tratava de corrigir o que era dado, a formação racial do brasileiro, e sim, construir uma nova ordem, formar os indivíduos. Desta forma, ao exortar os novos médicos, como orador oficial da formatura da 1ª turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, o Dr. Bernardo de Magalhães lembra a todos para que sejam:

eugenistas convencidos e praticantes; a nossa raça sem educação de qualquer especie,enfraquecida pelo clima e pelo indifferentismo, necessita do amparo dos competentes, dos ensinamentos dos sabedores, para a sua remodelação, para o revigoramento dos seus musculos e dos seu caracter [...] A cultura physica com o ensino primário obrigatorio serão os dois grandes e indispensaveis elementos para o desenvolvimento da disciplina moral e intellectual
... (O ESTADO DE SÃO PAULO, 04/04/1919).
 
As assertivas do médico contrapõem-se às do colega do fim do século XIX. A atuação sobre o meio cede lugar à ação sobre o indivíduo, é claro que o meio é importante, mas não é ele que determina, mas será determinado pelo homem, este sim, forjado pelas ações exteriores, já que não porta mais as suas próprias marcas:
 
 
Ha que melhorar a saude do povo pelo saneamento rural e urbano; ha que por em pratica o ensino obrigatorio para forçar as massas a ler e a escrever; ha que trabalhar pela vaccina obrigatoria para acabar com essa mancha que nos deprime [...]; ha que propagar como homem e como medico os principios eugenicos que robustecendo os fracos que são quasi todos, darão ao nosso povo uma melhor idéa de si mesmo, levantarão o seu nivel moral, estimulando a iniciativa propria tornando-o mais independente, mais senhor de sua vontade, diminuindo a empregomania e por consequencia o voto incondicional e augmentanrão a riqueza publica (O Estado de São Paulo, 04/04/1919).