Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

A produção dos indivíduos necessários à nação
 
É claro que o determinismo absoluto quase não penetrou no pensamento brasileiro do período, mas com essas mudanças nos enunciados sobre o indivíduo, ele perde cada vez mais importância. Em contrapartida, é possível verificar o rápido crescimento da ideia de que o indivíduo pode mudar o meio através de vetores externos. Se a educação, por exemplo, tinha a função de adequar os sujeitos ao meio, agora ela passa a ser o fundamento do próprio indivíduo, sendo por meio dela que se daria a própria formação da individualidade, instilando hábitos na alma infantil para a formação de um adulto adequado a esta ordem médica (COSTA, 1983, p. 174).
Na comemoração de aniversário da Escola Normal, em 1917, o Diretor da escola, sucessor de Caetano de Campos, o Dr. Oscar Thompson lembra que:
 
O elemento nacional habituado pela tradição a preferir as carreiras liberaes a outras quaesquer, desvalorisa-se dia a dia, por sua falta de preparo, nas mais insignificantes occupações materiais. E isto o colloca na luta pela vida, em situação inferior á do estrangeiro que dentro em pouco, se não mudarmos de proceder, serão os donos, os dirigentes economicos desta grande terra. Só ha um meio para nos fartamos (sic) á humilhação desta inferioridade que nos deprime e infelicita: é a criação de escolas profissionaes por toda a parte, abrangendo todos os graus e mormente a diffusão do ensino agricola, que deverá ser ministrado em nossas escolas, quer constituindo cursos especiaes, quer anexado a outras instituições congeneres, afim de que os jovens adquiram o habito do trabalho, aprendam fazendo e conheçam desde logo, pela própria experiencia, a realidade da vida (O ESTADO DE SÃO PAULO, 05/07/1917).
 
Podemos comparar com as falas de Caetano de Campos que, de maneira sintomática, pensava que:
 
a atividade é uma lei da criancice [...]. Acostume-os a produzir, educai a mão [...]. É com tais leis sempre presentes ao espírito do mestre, sem o descuido de um instante que a criança, graças á sua natural atividade, torna-se produtiva em vez de vadia, amiga da verdade e induzida a procurá-la por habito, porque tudo que sabe deve ao seu próprio esforço mais apta para a conquista das noções, porque aperfeiçoaram-lhe os sentidos e com eles a aquisição das idéias; finalmente, a criança assim conduzida, torna-se hábil e fecunda por que só se lhe deu o que ela podia receber; porque o que se lhe deu tinha a medida na sua própria psicologia e tudo que adquiriu estava baseado na formação do seu caracter, na justiça das cousas e portanto na moral pratica que é sempre assimilável” (O Estado de São Paulo, 10/03/1890).