Revista Rua


A produção dos sentidos da nacionalidade: um estudo sobre práticas discursivas na Primeira República
The production of the nationality senses: a study about discoursive practices in Brazilian First Republic

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

De maneira paradoxal, o novo modelo sanitário acaba sendo uma espécie de corolário para o individualismo liberal presente nos discursos a respeito de cidadania. Ao visar o corpo individual, de certo modo, a política sanitária abandona, aos poucos, os modelos intervencionistas em larga escala. O paradoxo reside no fato de que o novo modelo médico da passagem do século, atua em sentido contrário ao das liberdades individuais, como é possível observar na campanha da vacina obrigatória, em que a principal crítica era a desconsideração, por parte do governo, da propriedade privada, começando pelo corpo dos indivíduos e, ao mesmo tempo, permitindo caracterizar o indivíduo como entidade vivente que usa o meio como veículo para a sua manifestação. Nesse sentido, não cabe mais modificar o meio, e sim os indivíduos - é claro que chegaremos a um novo tipo de intervenção urbana, mas este modelo tem muito mais a ver com o espaço laboratorial, isto é, o meio urbano limpo e higienizado pretensamente se aparenta com o laboratório, por permitir todo desenvolvimento possível do ser vivente.
Neste sentido, as concepções de indivíduo vão se modificando. Como exemplo, temos as alterações que a organização do serviço sanitário sofre em 1906, sendo que:
 
duas das novas atribuições estaduais de 1906 representam novidade dentro do instrumental tecnológico empregado para o controle da saúde urbana. Trata-se do aconselhamento em higiene pessoal e doméstica, e a fiscalização da higiene escolar, do ponto de vista das instalações das escolas e da salubridade do processo de ensino. Constituindo o que chamamos de educação higiênica, pela primeira vez os serviços sanitários incorporavam ações de natureza explicitamente educativa na profilaxia de doenças, aproximando-se do instrumento tecnológico que foi amplamente utilizado a partir da década de 1920 na saúde pública paulista, a educação sanitária (TELAROLLI JÚNIOR, 1996, p. 223).
 
Esta pequena modificação que poderia muito bem passar por uma melhoria ou até mesmo como um paradoxo, entretanto, na realidade é uma profunda modificação nos enunciados sobre o sujeito, isto é, sendo o meio-ambiente um veículo para a manifestação do ser vivente, deve-se atentar com maior acuidade para o ser, a nova percepção ganha adeptos e aos poucos torna-se um discurso de verdade, tanto que:
 
alludimos ao grande problema do melhoramento physico do homem, que talvez em parte alguma se imponha tão gravemente, como no Brasil [...]. Felizmente, ha bons indicios de que a grave questão não continuará por muito tempo ao abandono. É licito mesmo dizerse que ella já começou a ser encarada, embora através de dubiedades e