Revista Rua


A Copa do Mundo de Futebol de 2014 e o (novo) Mineirão
The 2014 Soccer World Cup and (new) Mineirão Stadium

Priscila Augusta Ferreira Campos e Silvia Cristina Franco Amaral

sustentável também não é pensar no conforto térmico local? Em que medida essa modernização cria um melhor ambiente humano e natural com uma edificação que reduza a carga de calor? Conforme as especificações da FIFA (2011, p. 41):
 
O paisagismo abrangente, com o plantio de arbustos, árvores e jardins ao redor do projeto podem produzir um grande benefício visual para quem utiliza o estádio e para a comunidade local. O paisagismo de áreas verdes do local do estádio melhora a percepção e a realidade de que a instalação respeita o meio ambiente e sua vizinhança. O impacto sobre lençois freáticos de rios e lagos próximos ao local do estádio e, consequentemente, sobre a capacidade de drenagem do campo também deve ser considerado.
 
Nesse aspecto específico pode-se inferir que o projeto não atende plenamente as recomendações e também não se harmoniza com a natureza do espaço em seu entorno. Novamente, há o rompimento com a imagem do “antigo” Mineirão.
Santos afirma que o “trato do território supõe o uso da informação, que está presente também nos objetos” (1988, p. 59). Assim, o Mineirão deixa de ser uma paisagem em si para se tornar um objeto repleto de símbolos e interesses econômicos, políticos e sociais, de ordem particular e coletiva, que operam de forma dialética, gerando tensões, disputas, negociações referentes ao seu uso, entre os vários agentes envolvidos nesse processo, muitas vezes transcendendo a sua própria finalidade, devido às apropriações coletivas e particulares desse objeto.
Através do exposto, percebe-se algumas permanências no que diz respeito a construção do Mineirão em 1965 e a sua reforma para a Copa do Mundo de 2014, entre as quais a necessidade de ser moderno, de marcar uma gestão como um grande feito (no caso a construção/reforma de um monumento e a realização de uma competição de abrangência planetária) e de passar uma autoimagem positiva, civilizada e organizada do país e da cidade-sede.
Entretanto, algumas questões afastam os discursos, entre os quais, o trato com o conhecimento técnico-científico-informacional que opera conjuntamente com o sistema político-econômico que produz o que é ser moderno na atualidade. Dentro de uma sociedade globalizada há a transformação dos monumentais estádios para arenas multiuso, a transformação do torcedor em cliente, em uma política neoliberal há a apropriação do espaço público pela iniciativa privada, a preocupação com o meio ambiente, a necessidade de romper com o passado, a normatização e especificação dos usos dos equipamentos de lazer, tudo sob a égide de um planejamento urbano que transforma cidades em cenários.