Para que esses novos valores fossem incorporados e que uma nova psicoesfera fosse criada, a participação dos formadores de opinião e dos meios de comunicação de massa foi fundamental para fazer circular a informação. Nesse sentido, segundo Assumpção (2004), durante a construção do estádio, algumas ações foram realizadas, entre as quais, convidar o Presidente da Comissão Brasileira de Desportos, João Havelange, para visitar a obra; convidar jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo e outros estados para jantarem no Palácio da Liberdade, entre os quais João Lyra, João Saldanha e Armando Nogueira, para dar visibilidade nacional à obra; publicar matérias contínuas sobre o desenvolvimento da obra nos jornais mineiros.
Assim, a partir do advento Mineirão, uma nova forma de pensar e narrar o futebol mineiro emerge, concomitante a isso, hábitos e usos desse espaço foram sendo criadas. Afinal, não se pode desassociar o “espaço como instância social, [como] conjunto inseparável da materialidade e das ações do homem” (SANTOS, 2005, p.130).
Nesse contexto, o Mineirão, pensado por uma elite cultural-planejadora e erigido por trabalhadores braçais, pautava-se na ideia da monumentalidade e da grandiosidade (por abrigar uma capacidade elevada de pessoas), em um período em que o futebol mineiro necessitava se firmar perante o Brasil, especificamente Rio de Janeiro e São Paulo e, sobretudo, relacionava-se a um projeto de modernidade tecnocrática, de curvas substituindo as retas e expansão urbana.
O Mineirão de hoje
Atualmente, o Mineirão está passando por uma grande reforma que acarretará em sua grande transformação em termos arquitetônicos e funcionais, uma vez que a FIFA normatiza os estádios para o “seu” uso. Percebe-se que isso tem relação com o mercado internacional dos megaeventos esportivos e com a expertise internacional de conglomerados multinacionais especializados nestas inovações. São modelos de infraestrutura urbana exportados para todos os centros que pleiteiam sediar tais eventos, resultando em um “novo modelo de planejamento e gestão de cidades, calcado na lógica do mercado” (MASCARENHAS, 2008, p.195), e tratando as cidades como uma mercadoria que precisam possuir algum atrativo para receberem investimentos. Ao que tudo indica, os megaeventos vêm como possibilidade de legitimação de um planejamento urbano demandado pelos setores hegemônicos da sociedade (RAEDER, 2010).