Revista Rua


A Copa do Mundo de Futebol de 2014 e o (novo) Mineirão
The 2014 Soccer World Cup and (new) Mineirão Stadium

Priscila Augusta Ferreira Campos e Silvia Cristina Franco Amaral

de operação do estádio, com conforto e segurança e principalmente inovando na visão comercial, ao tratar o torcedor como cliente (MINAS GERAIS, s.d.).
Verifica-se que a ideia de modernidade está presente nesse contexto. De acordo com Bell (1973, p.214) “‘novo’ é marca distintiva da modernidade, embora essa reivindicação, em muitos casos, não se refira tanto a um aspecto especificamente novo da experiência humana e sim a uma alteração na escala do fenômeno”. Assim, ir ao estádio, torcer para um clube de futebol, passear em seus arredores faz parte da cultura belorizontina, entretanto, o “novo” refere-se à conjuntura em que essa rotina será realizada, através de uma variedade de usos desse espaço, em um sincretismo de ações. Aliás, variedade e sincretismo são termos utilizados pela modernidade (BELL, 1973). Nesse contexto, a modernidade se constitui como um rompimento com o passado, na qual a tecnologia se apresenta como um dos principais fatores de mudança social.
Se nas décadas de 1950 e 1960, para a crônica esportiva e políticos mineiros, ser moderno era se comparar a Rio e São Paulo, na Copa de 2014 ser moderno é submeter-se aos preceitos e normatizações da FIFA, uma entidade com fins lucrativos e abrangência planetária, que é capaz de estabelecer critérios os quais os governos nacionais devem se adaptar. Além disso, através da venda da marca Copa do Mundo FIFA, essa entidade vislumbra mercados reais e potenciais para o seu produto, “influenciando, cooptando ou atropelando Estados nacionais, em suas organizações, diretrizes e intenções” (IANNI, 1998, p.29).
De acordo com Santos (1999), a técnica normativa é normatizada no seu uso e normativa para os agentes. Isto é, a partir do momento em que um agente político, econômico, social elabora um conjunto de especificações e determinações a serem cumpridas por alguém, tem-se uma normatização dos procedimentos, de modo que, independente do lugar, as mesmas normas precisam ser cumpridas pelos sujeitos/agentes que estão sob influência de tais normativas para serem reconhecidos em seus meios, como é o caso, por exemplo, dos estádios de futebol que receberão os jogos da Copa de 2014, uma vez que, para receber esse direito e reconhecimento tiveram que cumprir as normativas da FIFA e esta, a cada edição da copa, precisa rever as suas normatizações, criando e/ou excluindo normas. Há uma tensão nesse processo, uma vez que “os agentes adaptam suas normas para que haja compatibilidade com as normas dos agentes hegemônicos. E essa adaptação rompe com equilíbrios externos e internos, condenando os equilíbrios preexistentes” (SANTOS, 1999, p. 20).