Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

REFLETINDO SOBRE A PROBLEMATIZAÇÃO DA PERIFERIA PAULISTANA NA PRODUÇÃO ACADÊMICA ENTRE OS ANOS 1970 E 1990
 
Objeto privilegiado das ciências humanas nos anos 1970 e 1980, o tema das periferias urbanas brasileiras vem sendo retomado na última década a partir da proposição de novos vieses teóricos e metodológicos. O que está em pauta é a necessidade de se rever criticamente as categorias e modelos de análise que foram forjados nos últimos trinta anos sobre a produção do espaço urbano, bem como a pertinência do conjunto de problemas associado ao padrão socioespacial centro-periferia dele resultante.
Em balanços recentes, autores como Cymbalista (2006), Frúgoli Jr. (2005), Marques e Bichir (2001), Torres e Oliveira (2001) assinalam que trabalhos acadêmicos produzidos nas décadas de 1970 e 1980, embora tenham divergido quanto à descrição dos processos que resultaram no padrão socioespacial paulista, apresentaram certo consenso com relação à homogeneidade de condições geográficas e de vida, tanto nas regiões centrais quanto nas periféricas. Em geral, o pressuposto que orientava a produção dessa época era a dicotomia centro-periferia que fixava, de um lado, os ricos e bem-servidos dos equipamentos públicos e condições de vida nas regiões centrais; e de outro, os trabalhadores com baixos salários e sem acesso à boa infra-estrutura nas áreas periféricas.
Segundo Magnani (2006), especialmente em São Paulo, a oposição espacial centro-periferia sempre operou de forma bastante significativa para os atores sociais e acadêmicos, pois, historicamente, houve certa continuidade entre segregação espacial e de direitos na região metropolitana paulista, fazendo com que morar e ser da periferia significasse ao mesmo tempo ausência do Estado e de equipamentos urbanos. Deste modo, o termo periferia só pôde ser entendido em oposição ao centro e, mesmo depois dos anos 1990, com a produção de sucessivas centralidades (centro histórico, centro expandido a partir da Avenida Paulista e o núcleo da Avenida Berrini), persistiu uma idéia do espaço periférico como seu contrário, até porque os diferentes ciclos econômicos continuaram a empurrar os trabalhadores para as áreas mais distantes desses centros e menos providas de equipamentos públicos.
A despeito de a periferia ser um fenômeno sociocultural e político relevante, o interesse por enfocá-la a partir dos anos 1970 também guarda relação com a disseminação da sociologia marxista entre os pesquisadores brasileiros, de acordo com