Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

podem ser asfaltadas, o esgoto pode estar lá, mas aquela sensação de carência continua (...). Outra questão é a econômica, a de salário e de não ter trabalho, tudo isso culmina na questão da violência” (Ibidem, p. 97).
Teresa Caldeira (2000), analisando a urbanização da cidade de São Paulo identificou que desde o final dos anos 1980 diferentes grupos sociais passaram a conviver numa mesma região geográfica, até por conta do deslocamento das camadas privilegiadas para condomínios de luxo instalados ao redor de áreas periféricas. Nessas regiões, a separação entre os grupos sociais seria feita por muros de tecnologias de segurança (os “enclaves fortificados”), que, de um lado, perpetuariam a exclusão, o controle e a estigmatização; e de outro, criariam espaços privatizados para moradia, consumo, lazer e trabalho (Ibidem, 2000). 
Já para Telles (2006), é preciso considerar, ao se fazer pesquisas que tomam a periferia como lócus, as “diversas problemáticas que se situam em escalas diferentes”. A autora se refere, entre outros aspectos, à expansão do tráfico de drogas nos anos 1990 que alterou rotas de violência e criminalidade, assim como interferiu na sociabilidade cotidiana, sobretudo nos bairros mais pobres. Mais do que isso, Telles enfatiza como dados a serem considerados o crescimento da economia informal, a possível indistinção entre o lícito e o ilícito, e a presença de um novo tipo associativismo nas periferias que inclui entidades filantrópicas, instituições multifuncionais e ONGs.
 
RESSIGNIFICANDO ESPAÇOS E CULTURAS: O QUE HÁ DE NOVO NAS PERIFERIAS PAULISTANAS
 
Diante desses breves apontamentos sobre a temática da periferia, cabe observar, conforme Frúgoli Jr. (2005), que o primeiro desafio que está posto é a produção de análises que avancem no entendimento do que se modificou e permaneceu com relação à periferia nos níveis conceitual e contextual, dado o registro de diversidades urbanísticas e de fenômenos socioculturais. No nível conceitual, é possível sinalizar que o modelo centro-periferia que orientou a parte da produção acadêmica nos anos 1970 e 1980 passou a ser relativizado por estudos desenvolvidos a partir de 1990, pois estes assinalam condições cada vez mais diversificadas entre os bairros urbanos e que interferem, por conseqüência, na produção do espaço social e nas relações e práticas nele constituídas. No entanto, se a sinalização dessa heterogeneidade passou a ser recorrente, levando alguns pesquisadores a privilegiarem o conceito “periferias” para abarcar as diferentes problemáticas identificadas (BONDUKI, 2001), não se pode descartar a capacidade interpretativa do termo periferia quando utilizado de modo