Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

como exemplo somente nos grupos que atuam na Zona Sul paulistana[7], pode-se destacar na área de cinema o autodenominado coletivo de produção de mídia NCA (Núcleo de Comunicação Alternativa), focado na “produção de vídeo, oficinas de produção, exibições e distribuições de trabalhos independentes em audiovisual”; e o Cinebecos, um coletivo que realiza “exibições periódicas e itinerantes pelos becos, vielas, escadões e bares”[8]. No que se refere ao teatro, despontam as ações da Brava Cia, companhia que se dedica às apresentações de rua e a oferecer cursos e oficinas teatrais gratuitos, e que, recentemente, propôs-se a coordenar as atividades de teatro em um espaço público da Zona Sul[9]; e da Capulanas Cia Negra de Teatro, cuja proposta é explorar variadas linguagens artísticas em espetáculos que possam contribuir tanto para difundir a cultura popular quanto para valorizar a imagem da mulher negra.
Na literatura, outro exemplo bastante significativo advém da consolidação do selo Edições Toró, organizado pelo escritor Allan da Rosa. Desde que o selo foi criado, em 2005, foram lançados dezesseis livros exclusivamente de autores que moram e atuam nas periferias. Com uma tiragem média de 600 exemplares, a Toró atingiu, segundo seu organizador, pouco mais de sete mil livros vendidos (custando entre R$ 10,00 e R$ 15,00); fato a ser considerado um sucesso editorial nas periferias paulistanas, visto que são os próprios autores que ficam encarregados de vender suas obras e privilegiam os diferentes espaços comunitários de consumo cultural periféricos.
É interessante registrar que nesse processo de construção da cultura da periferia diferentes manifestações artísticas, antes associadas às chamadas cultura negra ou afrobrasileira, são também abarcadas. Como por exemplo, as rodas de samba Comunidade Samba da Vela e Projeto Sociocultural Pagode da 27, ambos voltados para a revelação de novos compositores da Zona Sul paulistana e o resgate de sambistas da chamada “velha guarda”. Ou ainda, o Instituto Umoja, dedicado à pesquisa das


[7] O mapeamento de artistas, bem como de grupos, movimentos e coletivos culturais, identificados e atuantes na periferia da Zona Sul paulistana está sendo desenvolvido para a minha pesquisa de doutorado intitulada Nóis é ponte e atravessa qualquer rio: produção, circulação e consumo cultural na periferia paulistana.
[8] Segundo os releases dos coletivos disponíveis em Vídeo popular: uma forma que pensa, de 2008. Esta publicação foi financiada pelo VAI (Programa de Valorização das Iniciativas Culturais da Prefeitura Municipal de São Paulo), além de textos autorais de ativistas envolvidos com a produção e exibição de vídeo popular, são apresentados releases de dezessete coletivos de vídeo e cinema localizados em diferentes regiões da capital paulista, fruto de um mapeamento realizado pelo próprio NCA.
[9] Faço referência aqui ao “Sacolão das Artes”, localizado no mesmo prédio onde funcionava o antigo sacolão municipal de comercialização de verduras, legumes e frutas, no Parque Santo Antônio, bairro da Zona Sul de São Paulo. Desde agosto de 2007, moradores, lideranças locais e grupos artísticos da região mobilizaram-se para ocupar o espaço e promover atividades socioculturais e esportivas. Desde maio de 2009, no entanto, o espaço encontra-se interditado por ordens da Subprefeitura de M´Boi Mirim, responsável por sua manutenção.