Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

Por um lado, isso significa dizer que esses artistas periféricos se constituíram como sujeitos políticos portadores das demandas dos habitantes dos bairros tidos como periféricos. E, por outro, que suas iniciativas de ação cultural resultaram não apenas em modos específicos de se produzir, fazer circular e consumir cultura – por meio de publicações de livros coletivas, organização de saraus, bibliotecas comunitárias, etc. –, mas em discursos, demandas e práticas coletivas que se relacionam também com as esferas de produção (pois reivindicam e usufruem financiamentos públicos); de circulação (dado que demandam equipamentos em bairros tidos como periféricos ou ocupam espaços privados para transformá-los em “centros culturais”); e de consumo (no intuito de beneficiar a população dos bairros onde são atuantes).
Finalmente, vale comentar que esta reflexão sobre periferia e sua cultura singular forjadas por artistas periféricos remete às relações entre cultura e política que não se restringem às formulações de movimentos sociais, mas se ampliam para a produção artístico-cultural. Pois, é preciso considerar que os artistas da periferia estão edificando uma atuação político-cultural voltada para o incentivo à produção e consumo de bens culturais e se colocam como porta-vozes dos moradores da periferia no plano cultural. E, neste sentido, tem valor estratégico o posicionamento de certos artistas como “representantes” da periferia no campo cultural, defensores de uma cultura singular e amplificadores identidades coletivas, cujos vínculos com tal espaço têm caráter positivo.