Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

habitantes das periferias ou cujos trabalhos tomam uma ideia de periferia como alvo de suas formalizações estéticas – não raro que ambos os aspectos estejam combinados.
            Especificamente em São Paulo, os artistas, movimentos, grupos e coletivos periféricos encontraram como importante espaço de divulgação a Agenda Cultural da Periferia, uma publicação mensal produzida pelo Espaço de Cultura e Mobilização Social da ONG Ação Educativa[10], e que veicula exclusivamente eventos promovidos em bairros tidos como periféricos na Grande São Paulo ou as apresentações de artistas da periferia no centro paulistano. Com tiragem de 10.000 exemplares e estratégia de distribuição que privilegia os bairros onde acontecerão os eventos divulgados, a Agenda está organizada pelas seções “hip hop”, “samba”, “grafite”, “literatura”, “cinema e vídeo”, “teatro”, “outras cenas” e “periferia no centro”. Publicada pela primeira vez em maio de 2007, esta Agenda divulgou, nos seus primeiros doze números, 868 eventos, tendo sido 643 deles realizados na capital e 225 na Grande São Paulo. No que diz respeito às atividades promovidas, as rodas de comunidade e eventos samba aconteceram em maior número (263), seguida por eventos de literatura, como saraus e lançamento de livros (177); shows e debates promovidos pelo movimento hip hop (133); exibições de cinema e vídeo (81); apresentações musicais (57); teatro (52) e atividades ligadas ao grafite (21), entre outros[11].
            Os variados exemplos apresentados neste artigo podem indicar a incipiência de um campo temático ainda pouco explorado academicamente, mas com promissores rendimentos para reflexões que busquem articular cultura e política no cenário urbano. O que estou sugerindo aqui é que, tal como a abordagem dos movimentos sociais se tornou significativa para a compreensão do tema da periferia nos anos 1970 e 1980, principalmente para certa tradição antropológica, a movimentação cultural empreendida por artistas periféricos pode ser central para as análises atuais. Pois são esses atores que vêm ganhando espaço na cena política, apresentando novas questões e demandas que se sofisticaram com relação àquelas tidas como tradicionais (como a infra-estrutura e serviços), reivindicando políticas culturais específicas e estabelecendo conexões tanto entre sujeitos periféricos como também entre estes e representantes do centro geográfico, político e cultural. 


[10] A Ação Educativa é uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos ou econômicos criada em 1994 na cidade de São Paulo com o objetivo de atuar na promoção de direitos educativos e da juventude.
[11] A sistematização dos dados apresentados na Agenda Cultural da Periferia também integra os esforços de investigação da minha já referida pesquisa de doutorado.