Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

persistam problemas com relação ao acesso aos ensinos infantil e médio, à qualidade da educação pública como um todo, meios de transporte públicos e padrões construtivos das residências. Mas embora esses autores busquem destacar que a oferta e ausência de equipamentos e serviços públicos básicos não servem mais como chaves explicativas da segregação espacial na cidade de São Paulo, atentam que “é ingênuo supor que o investimento público em si seja capaz de eliminar a segregação” (Ibidem, p.66). Assim, esses autores propõem que sejam levadas em consideração outras dimensões da vida nos espaços urbanos, como os níveis de emprego e desemprego, índices de violência, características dos domicílios, distância ou má qualidade dos equipamentos de saúde e da rede de ensino, entre outros.
Para Marques e Torres (2001), a melhoria na oferta de equipamentos e serviços não impediu que uma acentuada parcela da população continuasse incluída de forma marginal no sistema econômico e submetida às piores condições de infraestrutura em espaços que os autores denominaram “hiperperiferias” e que representariam a “segregação da segregação” por conta da ausência de equipamentos e de oferta de serviços, menor renda da população, maior percurso para o trabalho e alta vulnerabilidade a riscos ambientais (inundações, desmoronamentos, etc.). Ao mesmo tempo, autores como Marques e Bichir (2001), a partir do argumento de que não se pode estabelecer uma relação linear e óbvia entre crescimento da cidade e volume de investimentos, sinalizam que é possível identificar em São Paulo bairros que podem ser considerados “periferias consolidadas”, dadas as melhorias de infraestrutura realizadas.
Outro fenômeno que entrou na pauta dos estudos foram as favelas. Ainda que datado da década de 1970, o surgimento das favelas nas periferias passou a ser enfocado, a partir dos anos 1990, como parte do processo do declínio dessas áreas. Além disso, por serem menos visíveis do ponto de vista das políticas públicas, as favelas de periferia mostravam-se muito menos estruturadas urbanisticamente e frequentemente expostas à situação de risco ambiental, diferentemente do que ocorreria com as “favelas centrais”, que permitiriam ao trabalhador algum acesso aos mercados locais de trabalho e a serviços públicos diferenciados (TORRES; OLIVEIRA, 2001).
Bonduki (2001) assinala que, ao se falar de periferia atualmente, “as várias situações se misturam” (p. 96): há a favela de periferia, que já abriga 20% da população paulistana; o adensamento populacional, a ocupação de mananciais e até mesmo o registro de melhores condições de vida. Neste sentido, mesmo nas regiões onde aconteceram melhorias urbanísticas, o elemento social continuará determinante para a permanência do que a idéia de periferia representa, pois, conforme o autor: “as ruas