Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

linguagens artísticas da cultura abrobrasileira e das discussões teóricas sobre a questão racial negra; o Grupo de Cultura Afrobrasileira Espírito de Zumbi, que oferece gratuitamente oficinas de capoeira, percussão e dança afro e que como principal vitrine de suas ações o “Panelafro”, um evento mensal que mescla performances de dança e música, privilegiando manifestações folclóricas, maracatu, côco, samba de roda e capoeira.
Juntamente com outros artistas, todas essas iniciativas periféricas paulistanas acima citadas reuniram-se em uma mostra cultural coletiva, em novembro de 2007, intitulada Semana de Arte Moderna da Periferia. Promovida pela Cooperifa oitenta e cinco anos depois dos eventos que marcariam a história cultural brasileira, a Semana de 2007, segundo seus organizadores, contou com a participação de cerca de 300 artistas e coletivos das áreas de literatura, teatro, dança, música e cinema, despontando como galvanizadora desta movimentação cultural singular que vem sendo desenvolvida desde o final dos anos 1990 nas periferias paulistanas.
Mais do que uma referência à Semana de 1922, tratava-se de um contraponto a vários momentos do modernismo brasileiro que se manifestou na escolha do título do evento, na paródia ao cartaz da semana modernista, na apropriação do conceito de antropofagia e na publicação do “Manifesto da Antropofagia Periférica”. Pode-se considerar que, em grande medida, isso se deve à influência que tal movimento artístico-cultural ainda exerce sob os padrões estéticos estabelecidos, mas se relaciona, sobretudo, à intencionalidade de colocar os produtos e atuação dos artistas da periferia em contraste com um marco simbólico de certa elite cultural do país.
Como se tratava de se acentuar os contrastes com relação à Semana de 1922, os primeiros aspectos que merecem ser destacados são facetas do perfil sociológico dos artistas envolvidos: nem todos têm a arte como profissão; mas são originários das classes populares que moram e têm sua base de atuação ou a sede de seus grupos em bairros da periferia. É significativa, ainda, a escolha dos locais onde aconteceriam as atividades da Semana de 2007: um terminal de ônibus, centros comunitários e unidades escolares. Todos situados na periferia da Zona Sul e distantes do centro geográfico e cultural paulistano, visando atingir os moradores dessa região e também provocar o deslocamento do público de diferentes espaços. 
Faz-se importante sublinhar que a Semana 2007 é entendida aqui como um evento galvanizador de uma movimentação cultural que vem sendo desenvolvida desde o final dos anos 1990 e que tem como protagonistas artistas comprometidos com os