Revista Rua


A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate
The periphery of São Paulo: resells discourses, updating the debate

Érica Peçanha do Nascimento

Frúgoli Jr. (2005). Para este autor, tornou-se bastante influente por aqui a interpretação que tomava a cidade como uma “variável dependente” das determinações econômicas e políticas na perspectiva de se produzir explicações macroestruturais e distanciar-se das análises culturalistas da Escola de Chicago, precursoras em territorializar questões sociais (como a marginalidade e a segregação) e produzir a concepção de uma cultura urbana que tomava a cidade como “variável independente” das contingências estruturais.
O modelo que se disseminou no campo dos estudos sociológicos realizados no referido período era aquele que apontava o Estado como o responsável pela reprodução da dinâmica capitalista, encontrando em Kowarick (1980) o autor que mais o aplicou nos estudos do caso brasileiro. Conforme Kowarick, sendo o Brasil um país de capitalismo tardio, o novo sistema econômico só funcionaria submetendo a força de trabalho a padrões constantes de super exploração e espoliação urbana. Nesse modelo, a periferia seria fruto da acumulação econômica e da especulação imobiliária, constituindo-se como “o aglomerado distante do centro onde passa a residir a crescente mão-de-obra necessária para girar a maquinaria econômica” (1980, p.31), construído e reconstruído pelo Estado e pela própria dinâmica da acumulação. A periferia, portanto, era entendida como o território da espoliação urbana, isto é, da sistemática exclusão das classes trabalhadoras ao acesso aos serviços de consumo coletivo.
Ao atentar para o aumento da migração interna que acarretava inchaço de população nas periferias das grandes metrópoles e gerava altos índices de desemprego em diversos países latino-americanos, pesquisadores como Bondunki e Rolnik (1979) enfocaram a precariedade das moradias, associando certas situações de marginalidade aos moradores dos bairros periféricos. Segundo eles, o “padrão periférico” que caracterizou a metrópole paulistana até os anos 1970 seguia a lógica de extensão ilimitada da cidade: devido aos fluxos de migração entre os anos 1940 e 1970, àqueles que aportavam na região metropolitana restava como alternativa mais barata de moradia a co-habitação com parentes ou o pagamento de aluguel em loteamentos afastados das regiões centrais ou, por vezes, situados no entorno das fábricas.
Além da peculiaridade dos lotes, da falta de infra-estrutura básica e da mobilização dos moradores para a autoconstrução das casas, também era possível identificar na figura das lideranças comunitárias, que estabeleciam relações clientelistas com os candidatos a pleitos eleitorais e eram importantes intermediários entre o poder público e a população local, outro indicativo de uma organização diferenciada na