Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

é amplamente aceito pela sociedade. Daí resulta o esforço de Sr. Cheng em incluir as principais linhagens humanas na tripulação do projeto Arca de Noé:
Todos os grandes grupos humanos que ainda subsistem estão de alguma forma aqui representados, cada um por um menino e uma menina. Os já extintos, como os indígenas e os esquimós, por exemplo, infelizmente não conseguimos reproduzir [...] Dos povos europeus, disse ele, apontando para o mapa da Europa – vieram Maia e Regor. Dos norte-americanos, Chara e Keid. Já de material genético asiático, nasceram Nashira e Dabih [...] Mira e Asterion vêm dos latinos-americanos – continuo o Sr. Cheng-Gong – Rana e Zaurak, dos judeus. Dos africanos, temos Zaniah e Nihal, e dos árabes vêm Adhara e Thuban (Ibidem, p. 15-16).
 
            Embora a inteligência seja requisito fundamental para que os jovens operem com a tecnologia necessária, é o seu caráter que determinará o sucesso ou não da missão, seja ela colonizar o Épsilon Eridane ou voltar no tempo e mudar o destino da Terra. Afinal, como afirma Sra. Zhu “a inteligência sem um bom caráter sempre destrói ao invés de construir” e foi justamente o egoísmo do homem que levou à destruição da Terra e que poderia levar a destruição de qualquer outro planeta.
            Mira é a personagem que influencia os demais jovens a seguir com o plano alternativo ao de Sr. Cheng, a Operação Buraco de Minhoca. A personagem começa a ganhar importância logo no começo da narrativa, quando ela não aceita partir para outro planeta sem ao menos conhecer seus pais biológicos. A disputa entre Mira e Sr. Cheng é anunciada na seguinte passagem:
Foi então que Mira, sempre a mais curiosa, resmungou um pedido que havia feito mil vezes nos últimos anos: – O que eu queria mesmo saber é quem são meus pais... O Sr. Cheng-Gong e a Sra. Zhu se entreolharam, meio sem graça. Muito mais do que todos os outros, Mira sempre se mostrou obcecada por aquele assunto. Essa idéia fixa da garota poderia se tornar um problema, poderia atrapalhar os planos que o chinês e sua esposa vinham arquitetando havia tanto tempo. E isso o Sr. Cheng não poderia admitir (Ibidem, p.13).
 
            Essa obsessão de Mira é o que acaba levando a garota ao Brasil, onde além de descobrir que sua mãe é a própria médica da clínica de inseminação artificial em que foi gerada, ela pôde ver de perto a pobreza, violência, poluição e toda a degradação ambiental que ameaça a Terra e que ela não tinha acesso vivendo no monastério do Tibete. Essa vivência faz com que Mira inicie um questionamento de valores sobre o