Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

Para compensar essa falta de explicação, o ambiente interno da nave Yan é detalhadamente descrito, fazendo uso de alguns elementos técnico-científicos:
Yan era uma espaçonave de última geração. Totalmente climatizada, seu ambiente interno reproduzia a temperatura, a pressão e a oxigenação ideais da atmosfera terrestre, incluindo a gravidade. Por isso, ninguém precisaria usar roupas ou máscaras especiais durante a viagem, e poderiam dormir em camas normais, usar o banheiro normalmente, cozinhar e comer como se estivessem num apartamento terrestre [...] Além de uma imensa e confortável sala de comando de navegação, cheia de painéis eletrônicos e monitores, e rodeada de janelas panorâmicas transparentes que permitiam ver quase 360 graus do lado de fora. Tudo era computadorizado, mas também dependia de alguns comandos e decisões dos pilotos, navegadores e demais técnicos envolvidos no funcionamento da nave (Ibidem, p.141).
 
            Já os Buracos de Minhoca são bem mais explicados ao longo da obra, como descreve Zaniah, personagem especialista em astrofísica:
“Buraco de Minhoca” é o nome vulgar. Se quiserem o nome científico, podem chamar de “Ponte de Einstein-Rosen” [...] Bom, ninguém ainda provou que eles existem de verdade – adiantou ela. – Eles são apenas uma possibilidade teórica, pelo menos por enquanto [...] Mas quase todos concordam numa coisa: se os buracos de minhoca de fato existirem, eles funcionam como fendas no tempo, como portais capazes de levar viajantes espaciais de um ponto a outro na História (Ibidem, p.30).
 
            A idéia do buraco de minhoca se baseia na teoria da relatividade de Albert Einstein, na qual se acredita que a matéria curva o tempo e o espaço em sua volta, formando um continuum espaço-tempo. Sua existência e funcionamento são especulações não só em Operação Buraco de Minhoca, mas também para a comunidade científica, que discute sobre as possibilidades de se viajar no tempo, assunto tão retratado pelas obras de ficção científica.
            Da mesma forma que o planeta Épsilon Eridane H, os buracos de minhocas não devem ser encarados sob o ponto de vista das incertezas do conhecimento científico disponível, mas sim como um elemento interessante por funcionar com a mesma lógica do discurso da ciência. Além disso, os buracos de minhoca constituem-se como o elemento que mais contribuiu para manter a tensão da obra, já que seu caráter especulativo não desequilibra em favor do discurso da realidade, como os elementos extrapolativos, ou da ficção, como os mais apelativos (PIASSI, 2007).