Revista Rua


Rumores e sabores de uma feira: Culinária popular e cosmopolitismo banal em Cuiabá
The rumours and flavours of a fair: Popular cuisine and banal cosmopolitanism in Cuiabá

Yuji Gushiken, Lawrenberg Advíncula da Silva e Adoniram Judson Almeida de Magalhães

de produtos culturais, não apenas entre os nascidos no local, mas também entre os que fazem da feira um lugar de travessia, por motivos vários.
Na Vila Boa Esperança, bairro de classe média localizado no Coxipó, região Sul de Cuiabá, passou a funcionar discretamente em 2008 uma pequena feira, com cerca de dez barracas de diferentes famílias, que funciona duas vezes por semana: segunda-feira e terça-feira. Os rumores é que as barracas, em suas itinerâncias pelo espaço urbano, oferecem comidas tradicionais da cidade, de outras regiões do país e de também de outros países. O bairro da Boa Esperança foi construído na entrada sul da cidade, tendo como divisa o rio Coxipó, a universidade federal e outros bairros de classe média. O bairro foi estruturado urbanisticamente na década de 1970 para acomodar membros do 9º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC), instalado em Cuiabá pelo Exército nacional para implantar rodovias que depois ligariam a cidade a outras regiões do país.
A feira de culinária tradicional, em sua caracterização popular, produz um espaço de circulação e consumo de produtos culturais. A Boa Esperança, bairro residencial com uma avenida comercial, tornou-se simultaneamente lugar de moradia e de passagem, sendo à noite atravessado enfaticamente pelo trânsito de automóveis, e, segundo o imaginário da violência urbana, bem menos por pedestres. A instalação da feira, modesta que seja, favorece algumas experiências no espaço urbano: a caminhada de moradores nas ruas do próprio bairro, o hábito de conviver no espaço público e comer na rua, o reconhecimento das diferenças culturais que habitam a cidade e a prática da comunicação intercultural em conversas ordinárias.

FeiradaBOApanorâmica3