Revista Rua


Rumores e sabores de uma feira: Culinária popular e cosmopolitismo banal em Cuiabá
The rumours and flavours of a fair: Popular cuisine and banal cosmopolitanism in Cuiabá

Yuji Gushiken, Lawrenberg Advíncula da Silva e Adoniram Judson Almeida de Magalhães

Na feira, que com o tempo vem demarcando um território simbólico e econômico, as barracas oferecem comidas típicas em modalidades populares como “prato feito” e fast-food. Dispostas em semicírculo, numa diminuta praça triangular, as barracas disponibilizam variedade de comidas: pastéis típicos de ítalo-paulistas, estrogonofe russo afrancesado na circulação mundial, kebab (tipo de sanduíche difundido na Turquia, na Grécia e no mundo árabe), tapioca nordestina de tamanho ampliado no mercado cuiabano, yakissoba e sushi entre os típicos pratos japoneses, cachorro-quente do popular fast-food americano. E, de modo igualmente presente nessa feirinha-mundo, encontram-se alguns dos pratos da tradicional e popular culinária cuiabana: mojica de pintado e ventrechas de pacu frito.
Mojica de pintado e ventrecha de pacu são o primeiro e o quarto pratos mais citados na pesquisa do Diário de Cuiabá sobre símbolos da culinária cuiabana. Mojica de pintado é um prato no qual filés do peixe são cortados em cubos e cozidos com pedaços de mandioca (chamada de aipim ou macaxeira, em outros estados brasileiros). O caldo é engrossado com farinha de mandioca e temperado com cheiro verde e sal. Os cubos do filé de pintado chegam à mesa em pedaços brancos e tenros, constituindo um prato leve e consumido tanto em refeições do dia a dia ordinário quanto em ocasiões festivas extraordinárias.
Ventrecha e costela são os nomes que os cuiabanos usam para designar a posta lateral de espécies como o pacu (Piaractus mesopotamicus), peixe de escama apreciado na pesca esportiva e servido à mesa em diversos modos de preparo. Usa-se o nome de “costela” de pacu pelo fato de essa parte do peixe ser constituída de espinhas grandes que se assemelham a uma estrutura óssea das costelas de mamíferos. Em formato maior, as espinhas (ventrechas, costelas) facilitam o corte e principalmente a degustação. O sabor e a textura da carne, associados às facilidades de manuseio à mesa, fazem da ventrecha de pacu um prato sempre presente na culinária cuiabana.
A mojica de pintado e a ventrecha de pacu podem ser servidas, como sugere o costume cuiabano, com farofa de couve, arroz branco e outros acompanhamentos. Em ocasiões especiais, ou no mais ordinário hábito alimentar cotidiano, a mojica de pintado e a ventrecha de pacu têm suas imagens associadas tanto à culinária banal do dia-a-dia quanto aos rituais da degustação gastronômica, sendo servidas em restaurantes dos mais populares aos mais sofisticados.
Na feira da Boa Esperança, a mojica de pintado e a ventrecha de pacu são vendidas em porções servidas também com outros pratos tradicionais da culinária