Revista Rua


Efeitos de sentido em cartuns: sujeito e consumo da/na rede eletrônica
Effects of sense in cartoons: subject and consumption of/in electronic network

Lucília Maria Sousa Romão e Fernanda Correa Silveira Galli

a realidade virtual, compreendida como um “real” ancorado no plano da pura representação, [que] altera radicalmente a nossa percepção e faz esvanecer-se a realidade tradicional. As telas, em todas as suas formas, constituem o espaço em que imagens e dígitos criam uma nova sintaxe do mundo. (SODRÉ, 1996, p.31)
 
Pela memória discursiva, sabemos que o programa Google Earth documenta a Terra e funciona de modo a atualizar antigos atlas, mapas e cartografias de outros tempos. Com recursos sofisticados de fotografia digital, registra detalhes do relevo urbano e rural, inscrevendo de modo dinâmico o que antes víamos estaticamente no plano do papel. O poder de “entrar” virtualmente no que está longe (ou perto), mas sempre em outro lugar, indica um modo de inscrição da tecnologia digital: mirar para além do alcance dos olhos humanos e entrar em lugares outros, ampliando o zoom e proporcionando ao sujeito-navegador modos de aproximação em relação a cordilheiras, depressões, rios, montanhas etc. O outro-lugar estaria, assim, como objeto a ser alcançado e apreciado, mas eis que irrompe aí, como objeto a ser olhado, o próprio corpo do sujeito-navegador, sua(s) espinha(s). O efeito derrisório está justamente nesse encontro inesperado de quem se vê refletido na tela e se reconhece como objeto de (seu próprio) olhar em se navegando. Da posição de sujeito-navegador à condição de peça em exposição, jogo de espelhos e de janelas oportunizado e potencializado pela rede eletrônica.
 
Algumas considerações
Procuramos, ao longo desse artigo, ancoradas na perspectiva teórica da análise do discurso pecheuxtiana, apresentar uma abordagem sobre discurso e rede eletrônica para, então, refletirmos sobre os efeitos de sentidos de três cartuns publicados na edição 53 da Revista Piauí (formato digital). De nosso ponto de vista, os dados analisados apontam para o modo naturalizado e evidente com que a rede eletrônica adentra a intimidade, invadindo as relações familiares, produzindo novos modos de identificação aos/com produtos da net e fundando outra discursividade na própria relação do sujeito consigo mesmo. Os cartuns, nesse sentido, colocam em evidência, ainda, a fragilidade dos laços, bem como a necessidade de uma ex-posição/im-posição na/da rede, mercadoria disponível para o consumo do sujeito que também se coloca em posição passível de se tornar objeto de comércio. Reiteramos, assim, o nosso propósito de