Revista Rua


Efeitos de sentido em cartuns: sujeito e consumo da/na rede eletrônica
Effects of sense in cartoons: subject and consumption of/in electronic network

Lucília Maria Sousa Romão e Fernanda Correa Silveira Galli

se configura no âmbito dos estudos discursivos que abarca a relevância de se pensar a relação (histórica) entre sujeito e consumo da/na rede eletrônica e, ainda, os jogos de poder que colocam em funcionamento a circulação e a (re)produção de discursos e de sentidos constituídos via trajetos de memória. No texto intitulado Análise do discurso e informática, Pêcheux (2011) discute as aproximações entre a informática e os estudos centrados no funcionamento do texto, apontando o jogo da codificação/decodificação como central no domínio do que ele chama de “leitura artificial”. A ela cabe o funcionamento da linguagem nos termos de apenas escutar que:
 
o objetivo geral da análise textual informatizada seria o de construir procedimentos automáticos de leitura-tradução, indo da superfície dos textos a uma representação formalizada não ambígua suscetível de se prestar a diversos cálculos (lógicos, semânticos etc...) que não suportam as línguas naturais: em resumo, se trataria de ‘limpar’ os textos para deles extrair o sentido unívoco, como se quiséssemos nos livrar dos embaraços (ambigüidades, deslizamentos etc...) da linguagem natural, a fim de nos encontrarmos o mais rápido possível nesses espaços logicamente estáveis que convém chamar de ‘linguagens de representação’. (PÊCHEUX, 2011, p.275-276)
 
Esse funcionamento concebe a linguagem como superfície passível de exatidão e controle, contornada pelo imaginário de absoluta assepsia de toda e qualquer ambiguidade, deslizamentos, equívocos. Ou seja, é como se as palavras inscrevessem uma matéria previsível o bastante para caber dentro de “um esquema”, “um modelo simplificado e manipulável”. Isso se deve à condição de que toda a programação de sistemas informáticos fundamenta-se apoiada na lógica binária, isto é, apenas zeros e uns podem entrar nessa tradução do processo de dizer, o que exclui a entrada de qualquer outro número ou de outros algoritmos no domínio. O autor sinaliza que é justamente a isso que a Análise do Discurso (AD) faz resistência, inserindo a questão da ideologia no escopo de sua reflexão, inclusive para pensar a leitura ideológica que se faz da tecnologia e produzir indagações sobre “a retomada da eficácia de uma estrutura sobre seus efeitos, através de seus efeitos” (PÊCHEUX, 2011, p.277).
Nessa visada, Pêcheux sinaliza um deslocamento da forma ao sentido nos seguintes termos: “minha primeira observação concerne à relação entre variação da forma (sintática e lexical) e variação do sentido” (idem, p.280). Por essa entrada, ele introduz, como pilar da teoria discursiva, o próprio da língua, a saber, sua polissemia e a propriedade de estar sempre sujeita à equivocidade, deslizamento, ambiguidade; ou melhor, Pêcheux nos convoca a não ficarmos “cegos ao papel teórico que devem desempenhar aí o acontecimento, a questão, a réplica, a interrupção e a irrupção.”