Revista Rua


Efeitos de sentido em cartuns: sujeito e consumo da/na rede eletrônica
Effects of sense in cartoons: subject and consumption of/in electronic network

Lucília Maria Sousa Romão e Fernanda Correa Silveira Galli

O computador, aqui, é discursivizado como janela de exposição e também como espelho, posto que abre espaço para olhar e, ao mesmo tempo, reflete o espaço denominado da realidade na tela com tal precisão, que dá a ver o próprio sujeito-navegador com seus furos. O sujeito-navegador, supostamente protegido em seus percursos de dizer, é desnudado pela tecnologia que o vê de um ponto inimaginável e o documenta até na sua espinha da face. Ter uma espinha no rosto de um adolescente pode significar mudança hormonal e alteração de uma fase, transformação típica da idade, de todo modo, é sempre algo que se quer esconder, velar e disfarçar; no caso, é justamente isso que é amplificado pela tela do computador, dando visibilidade a algo que é o próprio do rosto do sujeito-navegador. Cabe destacar que uma das redes sociais mais acessadas no país é o Facebook, o livro da face no qual as espinhas ora emergem ora se ocultam, face que é compartilhada entre pessoas que se conhecem e também entre as que nunca se viram pessoalmente, o que pode alcançar um nível tal de circulação que não apenas o rosto de um sujeito-navegador pode deslizar entre redes e dentro de redes, de modo difícil de mensurar. A expressão de espanto do sujeito-navegador diante da tela parece produzir um deslizamento acerca do imaginário instalado socialmente sobre a rede eletrônica – espaço democrático, acessível e controlável, deixando emergir o efeito de poder da tecnologia que se constitui como uma ordem discursiva, que determina os processos de identificação e de consumo do sujeito contemporâneo.
Inferimos que, nesse terceiro cartum, há uma repetição de pronomes da primeira pessoa – eu, minha – o que aponta para o funcionamento discursivo de algo da intimidade, da esfera individual e do próprio do sujeito-navegador – a espinha de seu rosto, ou, ainda, a sua espinha dorsal. Isso faz falar o que está exposto na trama pública de exibição da net, os corpos, os rostos e as espinhas de cada um, enredadas em uma trama que comporta um efeito de totalidade, de acúmulo e de soma indistintivamente; aqui nos parece jogar a contradição entre os sentidos do próprio, de cada um, de cada sujeito-navegador em circulação na teia digital, produzindo amostragens antes não imaginadas no eixo do coletivo, do de-todos embaralhado e caótico da rede. Nessa perspectiva, o privado parece deslizar e, conforme coloca ?i?ek (2011, p.9), o “privado” não tem sido “a matéria-prima de nossa individualidade oposta aos laços comunitários, mas a própria ordem institucional-comunitária de nossa identificação particular.”. Nos cartuns interpretados, as identificações via tecnologia se dão, de nosso ponto de vista, numa ordem do discurso da legitimação de um espaço de (in)visibilidade – de (se) dizer e de con-viver – que se sustenta na credibilidade dos sujeitos-consumidores. A rede eletrônica, portanto, parece ser: