Revista Rua


Efeitos de sentido em cartuns: sujeito e consumo da/na rede eletrônica
Effects of sense in cartoons: subject and consumption of/in electronic network

Lucília Maria Sousa Romão e Fernanda Correa Silveira Galli

(PÊCHEUX, 2011, p.282). Ao incluir tais noções, entramos no campo discursivo e nos apoiamos na condição de que o ideológico atravessa a linguagem e o sujeito, o que Orlandi (2011, p.5) sintetiza assim:
 
Se, a interpelação é geral e a ela não podemos nos furtar sob a pena de não termos linguagem, não podermos nos tornar sujeito, a individua(liza)ção pelo Estado, no entanto, se particulariza de acordo com as injunções das relações do Estado com a sociedade e o indivíduo está ao sabor das circunstâncias em que se dá a articulação do simbólico com o político, sob os efeitos do equívoco que constitui/resulta(?) a relação estrutura/acontecimento.
 
Observar o discurso nesse movimento em que está sempre presente o político-ideológico significa abandonar as palavras congeladas em estado dicionarizado, problematizar os discursos cristalizados e tomados como verdadeiros; significa, em especial, afastar-se do que poderia concorrer com os processos de codificação/decodificação marcados pela univocidade, clareza e precisão. Dito de outro modo, pensar político-ideologicamente implica colocar em questão os lugares sociais dos que falam, os modos de inscrição da luta pelo (não) poder dizer e a forma como a ideologia funciona produzindo algumas evidências. Esse é genuinamente o campo do político.
 
O político para quem trabalha com linguagem está no fato de que os sentidos são divididos, não são os mesmo para todo mundo, embora ‘pareçam’ os mesmos. E esta partição tem a ver com o fato de que vivemos em uma sociedade dividida. Uma sociedade que é estruturada pela divisão e por relações de poder que significam estas divisões, em relações dissimétricas, irreversíveis como tal. Os sujeitos, uma vez que passam por processos de individua(liza)ção, ocuparão enquanto indivíduos sua posição na sociedade, estabelecendo seus laços sociais. São eles também sujeitos divididos em seus processos de individua(liza)ção.” (ORLANDI, 2011, p.6)
 
E, se estamos em um ponto da teoria em que a divisão e a relação de/com o poder estão postas, a rede eletrônica precisa ser estudada para além da técnica, nas instâncias ideológica e política que a constitui. Entendemos que um dos sustentáculos econômicos e políticos mais eficazes da mundialização tem relação com a constituição dessas instâncias e com os jogos de poder, visto que as corporações de mídia (MORAES, 1997, 1998) alimentam-se da conjugada venda de informação, entretenimento e publicidade. No contexto da contemporaneidade, as empresas de net farejam lucros cada vez maiores com a criação, lançamento, oferta e venda de programas de informática, equipamentos eletrônicos, aplicativos e softwares, máquinas com maior precisão, processamento e potência de capacidade de armazenamento. Só a título de passagem, o boom da telefonia móvel emblematiza o quanto tais setores têm se