Nessa injunção, não haveria um causador ou responsável pelos furos e problemas nos sistemas informáticos como indiciam, do ponto de vista sintático, a emergência de muitas orações sem sujeito que funcionam discursivamente de modo a fazer falar a técnica por si mesma, e em si só, apagando as marca da posição-sujeito em sua tessitura política de dizer. O grande engodo que, pelo efeito de evidência parece óbvio, está na certeza de que o sistema gera-se a si mesmo, sobrevive sem a interferência dos gestores de arquivo, causa livremente o acesso de todos a tudo. O que consideramos importante anotar é que ele cria também (e quiçá, principalmente) furos de modo inexplicável, fazendo parecer ausente e distante o jogo de poder que tanto nutre o crescimento de tecnologias na atualidade. E isso tem relação com o corpus que interpretamos adiante, isto é, cartuns publicados em um periódico brasileiro sobre certos modos de funcionamento da rede eletrônica no cotidiano.
Tecnologia: consumir e ser con-sumido
A tecnologia apresenta-se rentável o bastante para coordenar diversos setores da constituição, produção e circulação (ORLANDI, 2001) de produtos, sistemas e linguagens, deixando o funcionamento do digital cada vez mais refém de seu saber e poder. Assim, o domínio dos sistemas digitais parece ser, pelo efeito ideológico de evidência, uma questão puramente técnica de tamanho de memória, processador, programas, linguagens etc., e isso faz esquecer o político e a leitura ideológica da/na inscrição da tecnologia. O que nos interessa, então, é considerar “a prática simbólica como prática do corpo (...) que se corporifica no textual” (ORLANDI, 2001, p.10) para pensar a constituição do sujeito contemporâneo, o consumir e o ser consumido na sociedade contemporânea. Vejamos como as relações de sentidos emergem nos cartuns da edição 53 da Revista Piauí (formato digital):
