Revista Rua


Efeitos de sentido em cartuns: sujeito e consumo da/na rede eletrônica
Effects of sense in cartoons: subject and consumption of/in electronic network

Lucília Maria Sousa Romão e Fernanda Correa Silveira Galli

Nesse primeiro cartum, temos indícios de outra forma de inscrição social da família, marcada pela entrada de pai, mãe e filho na rede eletrônica. Não apenas eles são discursivizados como estando na rede, mas também todos têm na profissão e no nome termos da net. Assim, “internet”, “webdesigner”, “www.illiam” fazem falar efeitos de um colamento dos sujeitos na e à rede, aos termos que gerenciam programas eletrônicos e ao modo como eles naturalizam sentidos sobre o que é navegar, ser programador e ter um nome próprio com estrutura de um link. Isso aponta discursivamente outro modo de significar o interior da família – especialmente as relações pais e filhos – visto que os sentidos deslizam para outros que não, por exemplo, os pais terem seus nomes próprios e serem ditos e re-conhecidos apenas pelo que fazem na net. Marcamos que é expressivo o efeito de credibilidade dado à rede eletrônica, já que, no enunciado do cartum, ela emerge como um produto que tende a produzir consenso sobre a relevância da tecnologia na família, o que parece ser determinado pela formação ideológica do cartunista. O poder, aqui, se reelabora e está, implacavelmente, relacionado às condições atuais de produção, bem como aos discursos instituídos e naturalizados pelo efeito ideológico de evidência.
            O sentido de trabalhar com “empresa de internet” e como “webdesigner” instala cargos frequentes no cotidiano, muito regularizados nas atuais condições de produção, já que a tecnologia fundou uma explosão de cargos e profissões a ela relacionadas. Observamos, no entanto, que o efeito derrisório irrompe na sequência “Meu nome é www.illiam”, no lugar em que o nome do filho marca uma colagem e justaposição de algo que é e está em outro lugar, um espaço digital indicador de endereços que tem seu reconhecimento social e funciona produzindo identificações. Ora, pela memória discursiva, sabemos que o “www.” é localizador de endereços de site e link, etiquetas que apontam uma trilha no espaço digital, ou seja, algo que serve para o sujeito-navegador se situar. Quando esse pré-construído desliza para o nome do filho William, produz-se algo do equívoco, uma con-fusão de duas esferas de dizer, quais sejam, o nome de um endereço com o de um filho. Notamos que a espetacularização da rede eletrônica contribui para a construção subjetiva do filho, colocando em funcionamento, ideologicamente, a necessidade de o sujeito se dizer participante desse mundo com papéis naturalizados socialmente.
Tal condensação impede a separação do que é de um e de outro, entre o que seria da ordem do coletivo e do individual, entre sujeito e objeto, e marca a potência da rede eletrônica como fundadora, pois o “www.” sustenta a nomeação. Tal charge combina-se