Revista Rua


Efeitos de sentido em cartuns: sujeito e consumo da/na rede eletrônica
Effects of sense in cartoons: subject and consumption of/in electronic network

Lucília Maria Sousa Romão e Fernanda Correa Silveira Galli

unido e integrado forças e investimentos para produzir e potencializar redes de sistemas dentro da própria rede eletrônica com aparelhos híbridos (e programas) capazes de executar mais de uma só vez diversas tarefas.
Nessa esteira, pensamos a rede eletrônica como espaço em que o poder, da perspectiva filosófica foucaultiana, emerge por meio dos jogos de forças, regularizando os discursos instituídos e definidos socialmente. Não se trata, portanto, do poder vigilante ou ameaçador, que é da ou está na rede eletrônica, mas de um poder que se exerce e se regula pelas forças ideológicas – instituídas política, econômica e socialmente – de modo que seu papel essencial, na funcionalidade econômica, é o de “manter relações de produção e reproduzir uma dominação de classe que o desenvolvimento e uma modalidade própria da apropriação das forças produtivas tornaram possível.” (FOUCAULT, 2004, p.174-175). Assim, o poder político pode encontrar na economia “sua razão de ser histórica”, fazendo com que, por meio da história, o processo de produção de sentidos nos seja possível. Marcamos que a Revista Piauí (formato digital), que abriga nosso corpus, tem função determinante na propagação de saberes e valores na contemporaneidade, dado que ela faz circular discursos-modelo atuais, agenciando o sujeito-leitor, levando-o a ocupar, ainda que de forma imaginária, determinadas posições. Há, nesse processo, certo controle e, conforme coloca Foucault,
 
O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir. (FOUCAULT, 2004, p.8)
 
O parecer-ser apenas uma questão de tecnologia sedimenta-se como verdade de oráculo, especialmente se tomarmos enunciados dos cartuns e, ainda, os explicativos sobre problemas atribuídos ao computador, tais como “incompatibilidade de sistemas”, “esta página não pode ser exibida”, “o arquivo precisa de outro programa para rodar”, “o PC não reconhece esse arquivo”, “a versão do aplicativo é muito antiga”, “tem que reformatar”, “o documento foi corroído”, “saiu ou sumiu da rede”, “desapareceu do sistema”, “o e-mail não chegou”. Nessas e em outras formulações inscritas pela emergência das novas tecnologias no cotidiano, o efeito do político fica silenciado e parece não estar presente nos termos do que Pêcheux nomeou como “clivagens subterrâneas nas diferentes maneiras de ler o arquivo” (1997), embora saibamos que isso seja apenas um mecanismo ideológico de tornar evidente e óbvio o efeito da tecnologia em si mesma.