Revista Rua


Construindo ombros fortes: A roupa ressignificando o corpo feminino
Building strong shoulders: how clothes can resignify the female body

Leonardo Perez*, Luzmara Curcino**

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                          Figura 6: Napoleão Bonaparte por Jean Auguste Dominique Ingres, 1804
 
A mão da modelo posicionada por dentro do casaco, a cor e os bordados rememoram as pinturas representativas do importante líder político e militar francês, responsável por estabelecer a hegemonia francesa sobre a maior parte da Europa, constituindo-se, assim, como uma dos maiores símbolos de poder da história. O enunciado reitera a busca pela superioridade feminina, autenticando-a através da comprovação científica: “A Ciência Garante”, explicitamente declara “As Mulheres São Melhores, Mais Espertas e Mais Fortes Que Os Homens”. Trata-se de uma retomada e, ao mesmo tempo da oposição, a um discurso já sabido, ainda que não mais enunciado explicitamente, segundo o qual essas características seriam antes atribuídas repetida e exclusivamente aos homens.
Observa-se, portanto, a construção de um discurso segundo uma formação discursiva outra e antagônica em relação àquela que se poderia designar como ‘patriarcal’, senão ‘machista’, em especial se considerarmos que o discurso, manifesto sob a forma de enunciados, origina-se de acordo com uma dada formação discursiva que lhe orienta o modo como é enunciado e também a compreensão do que é dito. Para Pêcheux (1995) a formação discursiva diz respeito a um conjunto finito e delimitado de discursos efetivamente enunciados sobre um determinado tema, assumindo em relação a esse tema um posicionamento específico:
 
Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, em uma formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada em uma conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina "o que pode e o que deve ser dito" (articulado sob a forma de uma alocução, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.) (PÊCHEUX, 1995, p.160).