Revista Rua


Construindo ombros fortes: A roupa ressignificando o corpo feminino
Building strong shoulders: how clothes can resignify the female body

Leonardo Perez*, Luzmara Curcino**

Mapearemos, especificamente, o uso de ombreiras pelas mulheres e as representações desse objeto ao longo da história, que produziram sentidos no que concerne ao corpo feminino que não as portava e que, num dado momento, se apropria desse objeto.
 
O corpo feminino ressignificado: uma breve análise
Após um longo período histórico de excessos e abusos, de uma roupa rígida e incômoda, Paul Poiret, precursor dos estilistas como os conhecemos hoje, cria a silhueta feminina do século XX (LURIE, 1997), com formas que davam mais mobilidade às mulheres, eliminando os espartilhos e o excesso de roupas íntimas. O predomínio da concepção de Poiret chega ao fim nos anos 20 com a entrada de Gabrielle Chanel na cena da moda (KÖHLER, 1983). Esta, por sua vez, “empresta” do guarda-roupa masculino peças que logo ganhariam a preferência das mulheres consumidoras de moda, tais como o tailleur[1], que já apresentava ombros sutilmente marcados, mas ainda privilegiava a fluidez frente à rigidez dos ombros do terno masculino. Posteriormente, as roupas da época da guerra refletiram o racionamento de tecidos que foi estabelecido em 1941 e, assim, ganharam um apelo masculino ainda maior, recebendo grande influência militar, evidenciando agora seu caráter utilitário (VEILLON, 2004). Os ombros eram quadrados, a forma reta e o corte masculino imitava o corte das fardas: a moda estava militarizada. No pós-guerra aconteceria o inverso, com o fim do racionamento, chegara o momento de esquecer a guerra e, então, Christian Dior cria vestidos e saias com até 30 metros de tecido: o New Look, a volta da feminilidade, a silhueta feminina é então acentuada e exagerada (BAUDOT, 2002).
As décadas de 60 e 70 também têm um papel importante na história da moda, uma vez que as roupas acompanham os movimentos culturais e de liberação sexual. Essa liberação “oferecia a possibilidade de desafiar uma ordem social opressiva e foi um elemento crucial para a luta pela mudança social” (WEEKS, 2000, p.30). Essas mudanças, juntamente com o advento da pílula anticoncepcional, foram algumas das grandes responsáveis pela inserção efetiva da mulher no mercado de trabalho, em cargos antes apenas ocupados por homens (VALCÁRCEL, 2005).


[1] Conjunto feminino de saia e casaco ou calça e casaco, muito usado pelas executivas. O traje começou a ser adotado em 1880, mas foi popularizado pela estilista Coco Chanel, na década de 1950. Ela simplificou o corte da roupa, que virou o uniforme da mulher contemporânea. Disponível em: <http://manequim.abril.com.br/moda/dicionario-da-moda/?bl_=t>. Consulta em 30 de Jan, 2012.