Revista Rua


Construindo ombros fortes: A roupa ressignificando o corpo feminino
Building strong shoulders: how clothes can resignify the female body

Leonardo Perez*, Luzmara Curcino**

surgiu com a Queda da Bastilha, em 1789, pois usar roupas luxuosas, o padrão para os homens da época, poderia resultar em morte. A mando de Luís XVI e disseminada a partir da burguesia ascendente inglesa, a simplicidade e a praticidade foram adotadas nos trajes masculinos, na Europa - e principalmente na Inglaterra – conhecida como a terra da liberdade e, assim, repentinamente não havia mais casacos bordados, tecidos brocados, perucas ou cabelos empoados (LAVER, 1989). Aos poucos, o vestuário masculino passou cada vez mais a apoiar-se nos valores da discrição, resultando em uma espécie de imobilismo e rigidez na moda para homens, contrária às constantes variações do vestuário feminino. Assim, mantendo a composição das roupas da corte francesa, paletó, calça e colete, mas sofrendo influências militares, como a inserção das ombreiras e das gravatas, os ternos passaram a dominar o guarda-roupa masculino.
Ligadas ao universo masculino (virilidade) e militar, as ombreiras passaram a ser uma afirmação de poder e, assim que possível, foram requisitadas pelas mulheres para que pudessem demarcar seu lugar social, principalmente no mercado de trabalho.
O corpo masculino, em uma definição própria do universo da moda, é chamado de “triângulo invertido[3]”, pois possui, em geral, o ombro mais largo do que o quadril. O terno com ombreiras é uma das formas de melhor demarcar essa característica.
Ao adotar as ombreiras, o corpo feminino através da roupa, reivindica essa característica, própria do masculino, para ressignificar seu corpo:
 
Se o homem não existe senão através das formas corporais que o colocam no mundo, toda modificação de sua forma engaja uma outra definição de sua humanidade. Se as fronteiras do homem são traçadas pela carne que o compõe, recortar ou acrescentar nele outros componentes traz o risco de alterar a identidade pessoal que é a sua e de perturbar os sinais que, aos olhos dos outros, lhe concernem (LE BRETON, 1995, p. 64-65).
           
Margareth Thatcher, ao utilizar as ombreiras nos anos 80, ressignifica seu corpo, aproximando-o do masculino para, assim, denotar poder, logo, esse mesmo objeto passou a ser adotado pelas mulheres que buscavam a inserção no mercado de trabalho. Schilder (1999) observa que qualquer objeto, inclusive as roupas, que se conecte ao corpo passa a incorporar-se a ele. Assim, ao aderirem às ombreiras, essas mulheres davam ao corpo um novo formato, mais masculino e, portanto, melhor aceito em ambientes sociais até então dominado pelos homens. Courtine, em seu texto Os stakhanovistas do narcisismo (1995), ao falar sobre a explosão da cultura do corpo


[3] Definição disponível em http://oficinadeestilo.blog.tagnclick.com.br/?tag=ombreiras Consulta em: 30/01/2012