Revista Rua


"Pra tá aqui tem que montar, desmontar e carregar". Mobilidade, território e cotidiano do trabalho na feira de artesanato da Avenida Beira-mar, Fortaleza (CE)
"To be here one has to assemble, to disassemble and to carry": Mobility, territory and labor quotidian in the craft fair, on Beira-mar Avenue, Fortaleza (CE)

Luiz Antonio Araújo Gonçalves

como rachar a lenha para a queima da louça. Essa ação é atribuída aos homens da comunidade, haja vista que exige maior força física. No caso da feira da Beira-Mar, dado o grande esforço demandado para o transporte, montagem/desmontagem das barracas e o grande número de feirantes mulheres, muitas das quais senhoras de idade avançada, ocorre o repasse desse trabalho pesado para outros indivíduos pagos para executar a tarefa diária que envolve a montagem da feira como um todo.
A iluminação é outro componente necessário ao funcionamento da feira, haja vista a iluminação pública ser insuficiente para propiciar a exposição das mercadorias nas barracas. A iluminação à bateria constitui um recurso que supre essa deficiência, sobretudo, nas barracas instaladas em locais mais distantes dos postes de iluminação pública, gerando, com isso, mais um custo adicional aos feirantes. Trata-se de um sistema de aluguel de baterias ofertado às barracas (Figura 4), de modo que outro grupo de trabalhadores é “contratado” para a função de transportar e instalar as baterias nas barracas. Diferentemente da função do carregador da barraca, que exige maior força física na tração humana dos carrinhos, o manuseio da bateria exige algum conhecimento para sua condução e instalação na barraca, requerendo, ainda, a utilização mínima de instrumentos de proteção, como as luvas, por exemplo.
Segundo dados fornecidos pelos feirantes, em dezembro de 2008, o serviço de aluguel e transporte da bateria custava algo em torno de R$ 40,00 (mensais) ou R$ 10,00 (semanais)[7], acordo esse que também varia conforme o capital disponível e/ou o volume de vendas do feirante. Todavia, isso não exclui a busca do feirante para diminuir os custos de manutenção da barraca. Muitos permissionários acabam providenciando a instalação elétrica e a aquisição de uma bateria própria, tendo em vista que esta constitui mais uma despesa que eleva o custo fixo mensal de sua atividade, o que pode ser constatado no depoimento de um feirante: “Eu tinha bateria, mas entreguei porque era mais uma despesa”.
 


[7] Para alguns feirantes esse custo é maior em virtude do consumo da bateria em função do maior número de lâmpadas utilizadas. Em algumas barracas, utilizam-se até três pontos de luz para melhor exposição da mercadoria.