Revista Rua


"Pra tá aqui tem que montar, desmontar e carregar". Mobilidade, território e cotidiano do trabalho na feira de artesanato da Avenida Beira-mar, Fortaleza (CE)
"To be here one has to assemble, to disassemble and to carry": Mobility, territory and labor quotidian in the craft fair, on Beira-mar Avenue, Fortaleza (CE)

Luiz Antonio Araújo Gonçalves

2. Mobilidade, território e cotidiano do trabalhona feirinha da beira-mar
Para a maioria dos feirantes o trabalho na feira é diário e sem folga, principalmente aos sábados e domingos, quando o volume das vendas é maior, porém o dia de folga que reservam para si é revestido de certa angústia e culpa pelo dia não trabalhado, pela mercadoria não vendida que ficou parada na barraca. Conforme o relato de um feirante: “[...] torna-se um ciclo vicioso, se não vir (sic), acha que poderia ser melhor as vendas”.
O local de trabalho, todavia, parece diluir o cansaço e a fadiga da rotina de todos os dias na feira, ajudada, outrossim, pelo ambiente litorâneo, o que faz com que muitos passem a ver aquela atividade de modo menos desgastante. Nesse sentido, o tempo de trabalho e o tempo de repouso também se misturam para muitos feirantes, à medida que se inserem no cotidiano da feira. Quando perguntados sobre o que lhes agradava no trabalho da feira, muitos feirantes apontaram como vantagem o ambiente e a paisagem, ou seja, o calçadão da Beira-Mar.
Para aquele trabalhador que passa o período diurno confeccionando suas peças, estar à noite na feira vendendo seus produtos constitui uma quebra de rotina. Em seu entendimento, esse é um momento de descanso. De outro modo, pode-se afirmar que, nesse caso, há um acúmulo de trabalho, uma vez que o feirante produz e comercializa consecutivamente.
O território demarcado no calçadão se torna, igualmente, um espaço de sociabilidade e de contato com outros costumes e sotaques. O contato com pessoas de vários estados brasileiros e de outros países, além do fato de sair de casa, ou seja, alterar a “rotina” diária, revela-se um aspecto positivo para muitos que trabalham na feira. A Beira-Mar torna-se, contraditoriamente, a quebra da rotina que se repete todos os dias na vida de cada feirante com a montagem/desmontagem das barracas no calçadão. Para outros feirantes a feira torna-se um fardo, um “serviço pesado”, que tem início já no trajeto casa/Beira-Mar, principalmente para aqueles que não possuem carro próprio e têm que se deslocar de ônibus, muitas vezes, trocando de veículo para atingir o destino final. Ao chegar à Beira-Mar, dedicam-se, inicialmente, à montagem das mercadorias na barraca e, em alguns casos, a condução do carrinho onde são transportadas as mercadorias, para depois, no final da feira, desmontar tudo, o que resulta em um trabalho diário, repetitivo e enfadonho.