Revista Rua


"Pra tá aqui tem que montar, desmontar e carregar". Mobilidade, território e cotidiano do trabalho na feira de artesanato da Avenida Beira-mar, Fortaleza (CE)
"To be here one has to assemble, to disassemble and to carry": Mobility, territory and labor quotidian in the craft fair, on Beira-mar Avenue, Fortaleza (CE)

Luiz Antonio Araújo Gonçalves

O trabalho de montagem e desmontagem das barracas é feito por trabalhadores denominados montadores que, em geral, também atuam como carregadores dos carrinhos de mercadorias no deslocamento do depósito até a feira[4]. Eles desenvolvem, assim, uma atividade que está diretamente relacionada à constituição e organização da feira, não obstante a presença de outros segmentos de trabalhadores, como os vendedores das barracas e, ainda, os carregadores de bateria, que prestam o serviço de iluminação das barracas, assunto este que será abordado mais adiante. Essas atividades de suporte que estamos denominando de subcircuitos do trabalho precário, subsidiam a organização e funcionamento da feira.
Por volta das 13h, com sol a pino, já se observa o movimento dos carregadores no calçadão. A presença desses sujeitos é marcada pelo esforço físico mediante tração humana no transporte dos carros de mercadorias para o local da feira. Corpos esguios, nem sempre bem alimentados, queimados do sol, envolvidos no movimento de ir e vir. Após levar um carrinho para o calçadão, o carregador retorna ao depósito para pegar outro, repetindo esse percurso diversas vezes.
Às 15h, a movimentação torna-se mais intensa. A feira vai ganhando forma e extensão com a montagem das mais de 600 barracas. Nesse momento, a ação dos carregadores é fundamental (Figura 2) no transporte e posicionamento dos carrinhos de mercadorias nos pontos onde será montada a respectiva barraca. Enquanto isso, os montadores vão lhe dando forma. Em muitas ocasiões, o próprio carregador é o responsável pela montagem da barraca, cabendo aos feirantes apenas organizar as mercadorias.
A maioria dos permissionários da feira guarda o carrinho de mercadorias no depósito, também denominado por eles como o “estacionamento dos carrinhos”. Eles pagam um aluguel que custa, em média, R$ 26,00 por semana (valores de 2008), porém esses valores variam de acordo com o tamanho e peso dos carrinhos, uma vez que, quanto maior o carrinho, maiores são o aluguel do depósito e o valor cobrado pelo carregador para transportá-lo.
 


[4] Os carrinhos com as mercadorias são guardados em um depósito na rua Visconde de Mauá, perpendicular à avenida Beira-Mar. Esse local assim funciona desde os anos 1980, quando ainda havia muitos terrenos desocupados. Acredita-se que a permanência desse terreno em uma área de grande valorização imobiliária, como é a Beira-Mar, decorre, em parte, da renda auferida com o aluguel da área para depósito dos carrinhos da feira.