Revista Rua


"Pra tá aqui tem que montar, desmontar e carregar". Mobilidade, território e cotidiano do trabalho na feira de artesanato da Avenida Beira-mar, Fortaleza (CE)
"To be here one has to assemble, to disassemble and to carry": Mobility, territory and labor quotidian in the craft fair, on Beira-mar Avenue, Fortaleza (CE)

Luiz Antonio Araújo Gonçalves

A feira da Beira-Mar, como um espaço de representação da cultura cearense pelo comércio de artesanato, revela-se um lugar heterogêneo, quer pela organização da atividade comercial do artesanato, quer pela arregimentação de trabalhadores, reunindo uma diversidade de sujeitos, que, de variadas formas, transformam aquela porção do calçadão não apenas num ponto de venda de mercadorias, mas num território constituído de várias dimensões – políticas, econômicas e culturais.
 
3. Organização do trabalho no interior da feira e a formação de subcircuitos do trabalho informal
Interessante destacar como se estabelecem duas temporalidades distintas em relação ao uso do calçadão na avenida Beira-Mar. Uma marcada pelo uso diurno, relacionado com as práticas de esportes, caminhadas etc.; e a outra, no período da tarde e da noite, quando essa funcionalidade muda, ou seja, instala-se outra dinâmica conduzida pela feira no movimento de carrinhos e feirantes que chegam para montar suas barracas e no maior movimento de turistas, sem, contudo, excluir a marcha dos praticantes de caminhadas no calçadão.
A feira é constituída pela área no calçadão entre a avenida Desembargador Moreira e a rua Osvaldo Cruz. É aí onde se encerra o local de trabalho do feirante, com a marcação da área para a montagem das barracas. Entre os feirantes que produzem e/ou vendem na feira, detectam-se diferentes níveis de organização, desde a técnica artesanal empregada, o capital disponível, até a arregimentação da mão de obra na fabricação e comercialização dos produtos. A produção das mercadorias vendidas na feira é, em geral, realizada em bairros da periferia de Fortaleza, não obstante, também, a ocorrência de mercadorias vindas de vários municípios cearenses e outros estados nordestinos.
Na feira, pode-se, ainda, verificar um pouco do que Santos (2008, p. 199) acentua ao descrever o circuito inferior da economia urbana, ou seja, “[...] o jornal usado torna-se embalagem, o pedaço de madeira se transforma em cadeira, as latas, em reservatórios de água ou em vasos de flores [...]”. Na feira, o jornal também é usado para embalar os produtos, mas, igualmente, se torna matéria-prima para a fabricação de arranjos, molduras etc.; as latinhas de cerveja são reaproveitadas, ganham aselhas e tornam-se canecas. As garrafas PET transformam-se em brinquedos. Materiais como as