Revista Rua


"Pra tá aqui tem que montar, desmontar e carregar". Mobilidade, território e cotidiano do trabalho na feira de artesanato da Avenida Beira-mar, Fortaleza (CE)
"To be here one has to assemble, to disassemble and to carry": Mobility, territory and labor quotidian in the craft fair, on Beira-mar Avenue, Fortaleza (CE)

Luiz Antonio Araújo Gonçalves

aluguel do depósito do carrinho podem chegar a um custo fixo de manutenção da atividade de quase R$ 300,00 por mês (valores de 2008). Por essa razão, torna-se, pois, evidente o esforço do feirante em reduzir os custos de manutenção da sua atividade no calçadão. Entretanto poucos fogem ao esquema que, atualmente, constitui a feira, ou seja, a necessidade do pagamento dos serviços de transporte do carrinho, de montagem/desmontagem da barraca e do aluguel da bateria.
 
4. Considerações finais
Conforme já destacado em trabalhos anteriores, no calçadão da orla “[...] tudo é flexível, é desmontável, passível de mobilidade” (GONÇALVES; AMORA, 2009, p. 107). Assim, o uso do calçadão também é mediado por uma dimensão espacial onde montar, desmontar e carregar constitui uma condição relacional que não está restrita apenas aos carregadores e montadores, mas se estende a outros sujeitos que atuam naquele espaço litorâneo.
A organização e o funcionamento da feira mobilizam um grande contingente de trabalhadores e trabalhadoras, envolvendo várias etapas e momentos, desde a montagem/desmontagem, transporte das mercadorias, serviço de iluminação e comercialização, revelando, por um lado, uma parcela considerável de pessoas inseridas nessas atividades e, por outro, a forma precária dessa inserção.
Essa prática generalizada na feira utiliza, literalmente, a força de trabalho de mulheres e homens que formam subcircuitos do trabalho precário, atuando no interior da feira em atividades parciais, com ganhos irregulares, levando a uma sucessiva exploração do trabalho, uma vez que se torna uma alternativa para trabalhadores desempregados e/ou excluídos do mercado formal, os quais, movidos pela necessidade de sobrevivência, se inserem no trabalho da feira, passando, ali, a ganhar o seu sustento.
A feira constituiu um território institucionalizado pelo Poder Público, não obstante também ser submetida a uma mobilidade compulsória diária (montagem/desmontagem), além das lutas empreendidas pelos feirantes, no sentido de uma constante reafirmação desse território pela presença desses sujeitos no calçadão, subordinados às várias ações normatizadoras. Já os ambulantes, movidos pela necessidade da sobrevivência, conformam territorialidades, além de serem impelidos ao movimento. Assim, enquanto o território para o feirante se forma concretamente na montagem e desmontagem das barracas, para o vendedor ambulante, essa apropriação é marcada por territorialidades que, embora não existam de forma concreta, constituem uma estratégia espacial que perpassa a elaboração de um referencial de territorialização no calçadão