Revista Rua


Imagem e Ilegibilidade da Forma Urbana de Campinas
Image and illegibility of urban form of Campinas

Luiz Tiago de Paula* e Eduardo Marandola Jr.**

A experiência da forma urbana e a vida na cidade
 
É quase tudo igual... para mim, é como se fosse sempre a mesma coisa. Quer dizer, quando subo e desço as ruas, é como se não percebesse diferença nenhuma – as Avenidas Newark, Jackson e Bergen. Bem, o que estou querendo dizer é que às vezes fica impossível decidir por qual avenida seguir, porque são todas mais ou menos iguais; não existe nada que as diferencie. (LYNCH, 2003, p.35)
 
Estamos conscientes sobre os efeitos que a forma da cidade tem sobre nós quando andamos por ela? Questões como esta nem a história e tampouco a teoria do planejamento nos deram respostas definitivas (BANERJEE, T.; SOUTHWORTH,1991; LYNCH, 2007). Por isso é preciso retornar às perguntas originárias: Que é cidade? Quais as maneiras dela ser apreendida? Quais as possibilidades dela ser evocada? Estas perguntas-primeiras são essenciais para pensar a multidimensionalidade da cidade enquanto fenômeno. A possibilidade de categorizar sua existência para aqueles que a habitam nos levariam a prescrever, a princípio, três cidades interconectadas: uma material, uma vivida e outra evocada-imaginada. Todas elas interferindo diretamente na experiência urbana.
A cidade material é a combinação de todos os atributos concretos do sítio urbano, desde os tipos de construções, edificações e instalações até as características mais primárias de seus aspectos naturais, como relevo, vegetação, hidrografia etc (MALARD, 2006). A cidade evocada-imaginada é aquela que fala, da confabulação social, do imaginário urbano, projetada nos sonhos e na memória, cujas verdades e mentiras são estratégias da narração de uma pura comunicação social (SILVA, 2001). A cidade vivida é a combinação dessas duas cidades, material e simbólica, onde tanto a comunicação social quanto a presença concreta de seus objetos e ações configuram paisagens e influenciam as escolhas e condutas individuais.
Na perspectiva das relações cotidianas, a separação dessas dimensões é impossível, pois se trata da própria existência fenomênica de como a cidade se revela a si mesma. A experiência urbana é intermediada por várias esferas do nosso modo de vida, desde nossos trajetos e deslocamentos diários até as formas mais efêmeras de nos relacionarmos com as pessoas e os lugares.
O presente artigo objetiva reolhar a paisagem da cidade moderna. Muitas vezes, ela é alvo de crítica por resguardar uma suposta monotonia estética e padronizada, o que a torna comum a vários centros urbanos. Ao mesmo tempo, apesar de sua predominância no cotidiano de muitos cidadãos do mundo, essa paisagem ainda