Revista Rua


Imagem e Ilegibilidade da Forma Urbana de Campinas
Image and illegibility of urban form of Campinas

Luiz Tiago de Paula* e Eduardo Marandola Jr.**

Para maior compreensão desses fenômenos, é preciso com a mesma preocupação darmos atenção aos processos que animam e dão significados a essas formas urbanas e entender como a força da forma física é negociada diante da ação do imaginário e de tantos outros aspectos simbólicos envolvidos. Além disso, as cidades modernas atingem densidades e dimensões enormes e crescem sem muita preocupação com sua coerência estética. As maneiras de se viver a cidade também mudaram. Essas prerrogativas nos levam a outras abordagens para pensar a paisagem de Campinas.
 
O enfraquecimento da forma da paisagem e o papel do imaginário urbano
O surgimento de novas áreas urbanas desconexas e a intensificação de um modelo de vida cada vez mais baseado na mobilidade entre lugares geograficamente distantes são, talvez, os dois principais fatores de uma experiência fragmentada da paisagem da cidade. O acréscimo da velocidade possibilitado pelas mudanças técnicas – instalação de vias de acesso rápido para automóveis, sistemas de transporte público integrado, entre outros – faz com que a condição física do corpo reforce ainda mais a desconexão entre os lugares e suas paisagens.
Porém, não apenas pelo impedimento físico que a cidade torna-se difícil de ser mirada. A degradação dos espaços construídos de partes da cidade de Campinas é um fator fundamental que gera estorvos, produzindo invisibilidades seletivas da leitura da paisagem e, em última instância, repulsas e topofobias.
No caso do Centro de Campinas, em especial em suas áreas mais antigas, onde há fachadas e prédios pichados, sem manutenção, escuros e sujos, tais elementos causam confusão e tornam pouco atrativo e discernível as características próprias de suas arquiteturas. Mesmo que este cenário não represente a totalidade da paisagem do lugar, esses elementos negativos reforçam a repulsa e se associam, através do imaginário urbano, a toda região central da cidade. Imagens topofóbicas como essas influenciam gradualmente a preferência por outros lugares ou a passagem por eles cada vez mais rápida, desfocada e desatenta (MARANDOLA JR., 2011).
O processo de mudanças de papel do centro enquanto difusor simbólico e econômico da identidade da cidade tem ocorrido em cidades ao redor do mundo. A dispersão e fragmentação geram novas centralidades, como os shoppings center, o que aumenta o desinteresse do mercado imobiliário e de setores privilegiados da cidade pelas áreas centrais (REIS, 2006; VARGAS; CASTILHO, 2006; SIMÕES JR, 1984; BOTELHO, 2006). Em Campinas, este processo de mudanças de usos dos setores privados e públicos no centro da cidade foi bem documentado, levando pertinentes questões sobre seus usos e funções, inclusive no campo do patrimônio arquitetônico cultural (PAES-LUCHIARI, 2006).