Revista Rua


Imagem e Ilegibilidade da Forma Urbana de Campinas
Image and illegibility of urban form of Campinas

Luiz Tiago de Paula* e Eduardo Marandola Jr.**

Se o Centro de Campinas, muitas vezes, agrega imagens topofóbicas e não chama atenção pela sua beleza, mas pelas suas ausências, degradação física de seus espaços que se estende até a estigmatização de seus habitantes, a imagem da cidade que historicamente esteve associada ao centro (MUMFORD, 1998) vai se esmaecendo. A imagem da cidade é afetada, tornando-se menos nítida, perdendo sua capacidade simbólica e agregadora. Esse processo é intensificado, uma vez que as metrópoles são cada vez mais marcadas pela presença de migrantes, os quais trazem memórias de outros lugares e ao estar em sua nova cidade, como Campinas, tornam ainda mais difícil construir uma boa imagem dela.     
 
Para que imagem vai Campinas?
Todas as cidades têm imagens que são impregnadas por memórias e significações. Ao estabelecer um rol de lugares de trabalho, lazer e estudo, cada cidadão constrói sua própria imagem da cidade. Todavia, o intenso caráter mutante das paisagens de centros urbanos contemporâneos tem criado descompassos quanto à autenticidade de paisagens que tem surgido e aquelas que repousam na memória coletiva de seus cidadãos (JUEDY, 2005).  Esse fenômeno descaracteriza a imaginabilidade da cidade, ou simplesmente a capacidade de a imaginarmos.
Campinas, durante décadas, ansiosa por instituir seu caráter metropolitano, referenciado a partir dos padrões urbanísticos da capital paulista (LANDIM, 2004), se esforçou por ser uma cidade industrial, tecnológica e moderna e se esqueceu de seus traços essenciais e de suas marcas mais singulares. Essa é uma das causas de ser tão difícil, no cotidiano de seus habitantes, apontar elementos da forma da antiga Campinas.
O desenho das vias, as relações entre os bairros e a organização do tecido urbano não são independentes dos grupos sociais que os produzem, que nele vivem e que os transformam (PANERAI, 2006). Na cidade contemporânea, identificar como se estabelece essas relações de feed-back entre a forma física e os comportamentos, condutas, escolhas e sentimentos se revela necessário, uma vez em que, como observamos em Campinas, a fragmentação do espaço físico da cidade tem produzido experiências frágeis e rasas de sua imagem.