Revista Rua


A Construção das representações identitárias: o brasileiro clandestino deportado

Marcos Barbai

 “Ande por donde ande, yo no dejo de saber a qué tierra pertenzco si la llevo puesta, si camino con ella, si soy ella”.
 
José Ismael Gutiérrez Gutiérrez
           
Introdução
 
Interrogar sobre os modos de construção e de representação da identidade é adentrar em um espaço de excelência do embate do simbólico com o político. Hoje, a mobilidade humana, um fato histórico-social, tem se revestido, no mundo contemporâneo, na realidade da globalização e, em tempos de terror, em uma complexidade nunca vista.
Mesmo que as fronteiras se encontrem abertas para a circulação do capital financeiro ou para o fluxo de mercadorias, criando um imaginário de um mundo global, elas têm se fechado para o fluxo de pessoas. Assim, a imigração que representa possibilidades de definição sócio-histórica da humanidade (Hall, 2003: 55), capaz de produzir a hospitalidade, ou seja, o relacionamento dos seres humanos entre si, para além do étnico, do cultural e do lingüístico, proporcionando o encontro com aquilo que é totalmente outro (Dauk, 2006: 93), o familiar no outro, tem produzido a hostilidade e a desumanidade.
As fronteiras estão cada vez mais investidas de um forte controle, com áreas bem definidas, o que acaba desencadeando a criação de novas estratégias em rede para burlar controles – o que produz uma visão negativa da imigração e do migrante. Esse forte dispositivo de controle global das fronteiras constitui um policiamento à distância, estabelecendo aqueles que são desejáveis e aqueles que são indesejáveis (mesmo que se precise desses indesejáveis, baratos e necessários para o funcionamento da sociedade móvel) em um dado território.
Assim, a liberdade de circular não responde mais ao direito de hospitalidade, mas a normas jurídico-políticas estabelecidas pelo Estado que, enquanto um agenciador simbólico, produziu a nacionalidade fundamentada em sangue e solo como a mais importante identidade do humano, uma identidade postulada, um fato da vida.