Revista Rua


A Construção das representações identitárias: o brasileiro clandestino deportado

Marcos Barbai

capacidade de se colocar no lugar que seu interlocutor ‘ouve’ suas palavras. Orlandi (1999: 39) destaca que o mecanismo da antecipação regula a argumentação, ou seja, um sujeito dirá de um modo ou de um outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte. Há relações de força na linguagem e cada sujeito fala a partir de um lugar em que seu dizer se constitui.
O imaginário se assenta no modo como as relações sociais se inscrevem na história. Assim, por exemplo, a imagem de um deportado não cai do céu. Ela se constitui “no confronto do político com o simbólico, em processos que ligam discursos e instituições” (id.: 42), já que a sociedade se estabelece por relações de poder.
Acolher o sujeito que fala de si mesmo, acolher a voz, nos discursos do cotidiano, é estar em relação com um outro que regula, preenche vazios e esvazia outros. É lidar com o sujeito humano se constituindo pelos efeitos de lembrança, esquecimentos, repetições, redefinições, rupturas, transformações, pelos processos de subjetivação no corpo da linguagem. Aqui há a excelência do interdiscurso.
Passamos, assim, para a identificação simbólica, na qual vemos dois tipos de funcionamento: (1) a identificação e (2) a contra-identificação. Essas identificações são o trabalho do paradoxo entre a dimensão vertical (o plano da constituição, a partir da memória do dizer) na dimensão horizontal (o plano da formulação, da linearização do dizer). A identificação se dá como o livre consentimento daquilo que é dito, pensado em um outro lugar e independentemente. Trata-se do discurso do bom sujeito: aquilo que se diz, só pode ser dito com aquelas palavras e daquela maneira. O sujeito está filiado ‘cegamente’, atado ao corpo dos sentidos.
A contra-identificação é uma segunda modalidade da identificação simbólica caracterizada por Pêcheux (1988: 215) como o discurso do mau sujeito. O sujeito da enunciação se volta contra o movimento de filiação. Aquilo que o faz tomar posição subjetiva consiste em uma separação (distanciamento, revolta, questionamento) da evidência dos sentidos. Essas duas identificações (marcadas com discurso do bom sujeito e o discurso do mau sujeito) representam, para Pêcheux, modalidades do funcionamento subjetivo.
                Entretanto, o autor aborda uma terceira modalidade subjetiva: trata-se da desidentificação. Ele mostra com esta o funcionamento da ideologia às avessas, isto é,